Europeias em França onde tudo indica que Lepenistas vão vencer. Entrevistas com 3 candidatos luso-franceses

Em França, as listas nacionalistas do partido de Marine le Pen estão largamente à frente nas sondagens

Europeias: Candidatos luso-franceses veem eleição como crucial para UE – reportagem da Lusa

 

Os candidatos às eleições europeias de origem portuguesa em França concordam na importância do escrutínio de domingo para o futuro da União Europeia (UE), com os de centro-direita e esquerda preocupados com a prevista ascensão da extrema-direita.

Em França, maior comunidade da diáspora portuguesa, vários portugueses e lusodescendentes ocupam cargos políticos de relevo, caso de Camille dos Santos de Oliveira, filha de pai português, que é delegada departamental na região de Creuse (a sul de Paris) e número 74 da lista do partido União Nacional (RN), da extrema-direita. Embora se considere “plenamente francesa”, orgulha-se das suas raízes portuguesas.

“Tenho profunda admiração pelo caminho percorrido pelos meus avós e pelo meu pai (…) conseguiram integrar-se e contribuir ativamente para a sociedade francesa », disse a candidata em entrevista à Lusa.

Para Camille dos Santos de Oliveira, os franceses sentem-se “cada vez mais privados das suas escolhas a nível nacional, que são muitas vezes a consequência de escolhas europeias e da sobreposição de leis francesas e europeias”.

As eleições europeias de domingo “são um momento crucial” para o país, oportunidade para “mudar a governação da Europa” e “garantir que a França continue a ser a França”, preservando a sua identidade e soberania, afirmou a candidata nas listas da RN, lideradas por Jordan Bardella, que em todas as sondagens têm perto de 15 pontos de vantagem sobre o partido do Presidente Emmanuel Macron.

Já Rosa André, vereadora municipal de Saint-Germain-en-Laye (a oeste de Paris) e número 33 da lista presidencial Besoin d’Europe, nasceu em Portugal e, por isso, considera-se “duplamente europeia” e defensora de uma « Europa forte e unida, segura e independente ».

« Quando eu tinha quinze anos, Portugal entrou na União Europeia e eu vi o meu país de origem transformar-se graças à Europa e isso ficou gravado em mim: porque a Europa é um formidável terreno de oportunidades e de liberdade », disse Rosa André à Lusa.

Embora considere não estar em posição elegível, para Rosa « isso não importa », o importante é dar voz aos valores que acredita: « a força da Europa, o humanismo, a responsabilidade”.

Questionada sobre as sondagens, que indicam o segundo lugar para o seu partido, liderado por Valérie Hayer (16% nas sondagens), Rosa acredita que estas “representam uma reação à situação política francesa, interna à França, mas os franceses gostam da Europa e precisam da Europa e não vão deixar perder tudo pelo qual lutaram até agora”.

“São as eleições europeias mais importantes porque por todas as partes vimos correntes que atacam as fundações da Europa, correntes de extrema-direita que exploram as dificuldades que enfrentamos, e tentam desunir-nos e temos que resistir agora mais do que nunca”, acrescentou.

João Martins Pereira, vice-presidente dos Jovens Socialistas Europeus e número 47 da lista de esquerda do Partido Socialista-Place Publique, de Raphaël Glucksmann (14,5% nas sondagens), defende “um projeto radicalmente europeu, social e ecologista, feminista, que responde às necessidades e aos anseios dos franceses e dos europeus”.

“É um orgulho ser português nesta lista (…) ao lado de camaradas de toda França, e com um programa denso, completo, realista e de profunda transformação da UE”, disse Pereira à Lusa, acrescentando que teve “a sorte de poder contribuir para a redação do programa”.

Enquanto eleito pelo Conselho das Comunidades Portuguesas, na área consular (Paris), Pereira não esquece a comunidade portuguesa e as suas ambições, como uma « melhor cooperação entre Estados, acesso ao mercado do trabalho, acesso ao ensino do português em toda Europa, fim da dupla tributação, acesso aos direitos cívicos e sociais, habitação, acesso ao ensino superior, liberdade de circulação ».

Questionado sobre o crescimento da extrema-direita, Pereira defende que “a reflexão na Europa não deve acabar na noite de 09 de junho” e que estas eleições « são fundamentais para a União Europeia ».

As eleições para o Parlamento Europeu ocorrem entre 06 e 09 de junho, e a França elegerá 81 deputados dos 720 eleitos por todos os países da União Europeia.

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