Europeias. Quem ganhou e quem perdeu as eleições

O dia em que os opostos ganharam (Os Verdes e a extrema-direita) e outros factos das eleições europeias.

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As eleições em 27 países resumidas em quatro factos

ALFA/EXPRESSO

FACTO 1. MENOS ABSTENÇÃO LÁ FORA APESAR DO MAU EXEMPLO CÁ DENTRO

A abstenção em Portugal foi de uns históricos 68,64% mas, no geral, a Europa votou mais do que na última vez em que foi chamada às urnas. Cerca de 50,5% dos eleitores europeus foram escolher os seus representantes ao Parlamento Europeu, onde se decidem inúmeras regras que depois são transplantadas na lei de todos os 28 países: segurança alimentar, proteção do direito à licença de maternidade ou eficiência energética são apenas três exemplos de dossiês onde é o Parlamento Europeu que lidera. Eslováquia, Espanha, Roménia ou Hungria foram alguns dos países onde a participação mais subiu. O que pode querer dizer que, por muito que existam críticas à UE em todos os países, os cidadãos europeus sentem-se parte do projeto e querem ter uma palavra a dizer sobre o futuro. A Bélgica ganha a corrida da participação com 89%. Em 2014, Portugal tinha registado a mais alta abstenção de sempre em atos eleitorais – 66,2%, também numas europeias – mas o valor deste ano foi o maior.

FACTO 2. A ASCENSÃO DOS VERDES

São uma das histórias de sucesso da noite e muito ainda se vai escrever sobre as razões por trás destes resultados. Será que foram as greves dos jovens, todas as sextas-feiras, por toda a Europa? Ou foram as imagens das secas terríveis na Austrália? Talvez tenham sido as fotografias que mostram como a fauna marítima sofre com a quantidade impossível de plástico que usamos. Em alguns países, como na Alemanha, os Verdes conseguiram resultados históricos: 22% do voto, à frente dos sociais-democratas do SDP. Também no Reino Unido, onde obtiveram os melhores números de sempre, conseguindo 7 assentos (+4) e cerca de dois milhões de votos, são eles que festejam. Em França, os ecologistas ficaram em terceiro lugar, com 12,5%, e na Finlândia conseguiram um impressionante 2º lugar com 16%. Na Irlanda, os verdes triplicaram a sua contagem de 5% para 15% e, pela primeira vez em 20 anos, vão enviar deputados para Estrasburgo. De repente, a agenda ecologista torna-se capaz de exercer pressão nos outros grupos parlamentares do Parlamento Europeu e podem vir a fazer a diferença numa divisão de assentos que não dá uma maioria ao centro político (44%), coisa que sempre aconteceu até aqui. No total, podem conseguir 69 assentos.

FACTO 3. EXTREMA-DIREITA: A DERROTA PREVISÍVEL, A SURPRESA ELOQUENTE E AS VITÓRIAS ÓBVIAS

Houve uma derrota óbvia: os escândalos que afetaram o governo austríaco, que tem uma coligação onde há extrema-direita, penalizou precisamente esta última nas europeias deste domingo. As sondagens faziam antever o que a realidade consumou – uma derrota do Partido da Liberdade (que conseguiu apenas 3 assentos), que obteve um resultado modesto depois da chegada ao poder e perspetivada ascensão nas eleições seguintes.

Na Holanda, Thierry Baudet era apontado como líder firme de uma extrema-direita que tinha encontrado alguém que era tão apresentável quanto eloquente mas não triunfou como anunciado: Baudet conquistou três eurodeputados mas não venceu as eleições, facto que chegou a ser dado como possível.

Em França e Itália, nenhuma surpresa. Marine Le Pen e Salvini venceram os escrutínios locais e reforçaram a presença da Europa das Nações e das Liberdades, a família política da extrema-direita no Parlamento Europeu (ver mais no Facto 4).

Na Hungria, Órban teve uma vitória absolutamente inequívoca. Na Suécia, com 15,6%, os Democratas Suecos conquistaram o terceiro lugar (um resultado muito positivo) com as suas posições anti-imigração.

A Alternative für Deutschland (AfD) teve um desempenho pior do que o esperado, conseguindo apenas 10,5%, menos do que nas legislativas de 2017 mas mesmo assim uma melhoria em relação aos seus resultados nas últimas europeias.

Os extremistas anti-imigração não devem conseguir o resultado que desejavam para « fechar a Europa » mas ainda existe o risco de que o partido Fidesz, da Hungria, possa renunciar ao Partido Popular Europeu para se juntar aos bloco nacionalista.

FACTO 4. UM PARLAMENTO EUROPEU SEM MAIORIA A DOIS E COM A EXTREMA DIREITA A CRESCER

A configuração do Parlamento Europeu vai mudar substancialmente. E há três grandes vencedores: a Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa (à qual Macron se vai unir), com uma subida de 37 eurodeputados; a Europa das Nações e das Liberdades (Salvini, Le Pen), que conquistou mais 33; Os Verdes, que ganham 17. Os dois grandes derrotados: o Partido Popular Europeu (PPE) e o S&D, que deixam de ter conjuntamente a maioria do Parlamento Europeu.

O PPE deve perder 38 deputados (eram 217, são projetados 179) mas o que é uma notícia aparentemente má para esta família política (e é mesmo) vem com duas benesses: mantém-se como a maior força política europeia e a distância para os socialistas, a segunda força, não se altera – o S&D tinha 187 e decresce para 152, o que representa uma perda de 35. Trata-se de resultados pelas 01h13.

Mas há uma consequência relevante do somatório destas forças: até aqui, o bloco PPE/S&D representava a maioria do Parlamento Europeu (fixada nos 376 eurodeputados) e as decisões maioritárias eram tomadas entre ambos sem necessidade de negociações com outras famílias. Deixará de ser assim: a Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa (ALDE), que estava nos 68 e agora sobe para 105 (ganho de 37 eurodeputados), torna-se a terceira força. Nota adicional: o movimento pelo qual o partido de Emmanuel Macron concorreu nestas europeias, o Renaissance En Marche, vai unir-se à ALDE.

Os Verdes Europeus crescem de 52 para 69 e a Europa das Nações e das Liberdades (ENF), onde estão a Liga Norte do polémico Matteo Salvini e a União Nacional de Marine Le Pen, ganha 33 lugares – uma das subidas da noite. A Europa da Liberdade e da Democracia Direta, encabeçada por Farage, passa de 41 para 51.

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