Alfa/Lusa
A Real Academia de História de Espanha divulgou um relatório em que esclarece que a primeira viagem de circum-navegação da Terra foi um projeto total e exclusivamente espanhol.
« Com esses dados, absolutamente documentados, é incontestável a plena e exclusiva autoria espanhola da empresa », conclui a Real Academia de História (RAH) num relatório com a data de 1 de março deste ano, mas publicado este domingo na sua página na internet.
A instituição explica que o documento foi elaborado pela « necessidade social de responder às muitas questões levantadas pelas autoridades portuguesas ao tentar capitalizar a paternidade » da autoria da viagem pelo facto de « Magalhães ser natural de Portugal ».
« Com este relatório pretende-se evitar que a comemoração [dos 500 anos da viagem] se converta numa fonte de divisão entre os dois países vizinhos », segundo a RAH.
Os chefes da diplomacia de Portugal e de Espanha anunciaram em Madrid a 23 de janeiro último a apresentação conjunta de uma candidatura a património da humanidade da primeira viagem de circum-navegação do globo, depois de « dissipadas todas as dúvidas ».
« Decidimos que Portugal e Espanha, através dos seus embaixadores na UNESCO, irão apresentar conjuntamente a candidatura » da rota da viagem iniciada pelo português Fernão de Magalhães e terminada pelo espanhol Sebastião Elcano, disse na altura o chefe da diplomacia portuguesa, Augusto Santos Silva.
O relatório da RAH foi elaborado a pedido do diário « ABC#, que antes desse anúncio tinha avançado que, numa candidatura inicial da rota de Magalhães apresentada por Portugal à UNESCO, o governo português teria apagado o império espanhol da história ao quase não fazer referência ao nome de Sebastião Elcano ou o papel preponderante de Espanha na realização da viagem.
Primeira viagem à volta do Mundo, a bordo da nau Victoria, começou em 20 de setembro de 1519, em Sanlúcar de Barrameda, no sul de Espanha, e terminou em 6 de setembro de 1522, no mesmo local.
Fernão de Magalhães, que planeou a viagem que acabou por ser financiada pelo reino de Espanha, não terminou a expedição, uma vez que morreu nas Filipinas, em 1521, aos 41 anos, tendo esta sido concluída pelo navegador espanhol Sebastião Elcano.
Portugal e Espanha estão a organizar inúmeras iniciativas que terão lugar até 2021 para assinalar esta viagem histórica iniciada há 500 anos.
No seu relatório, a RAH relata que Magalhães, natural de Portugal, « serviu esta coroa fazendo várias viagens pelo Índico », mas que em 1517 « agastado com D. Manuel de Portugal por não reconhecer os seus méritos, decide abandonar o seu país, deixar de servir o seu rei e viajar para Espanha, […] onde se instalou, contraiu matrimónio e, desde essa altura, serviu o rei Carlos I ».
O documento sublinha que, na altura, Portugal tentou, « por todos os meios, que a viagem não se realizasse » por esta ter sido « entregue a uma empresa espanhola », qualificando Magalhães de « renegado » e « traidor », o que continuou a ser feito por « uma parte » dos historiadores portugueses.
A RAE, fundada em 1738, é uma instituição com sede em Madrid encarregada do estudo da história da Espanha, « antiga e moderna, política, civil, eclesiástica, militar, das ciências, letras e artes, ou seja, dos diversos ramos da vida, civilização e cultura dos povos espanhóis ».