FMI prevê recessão de 8% em Portugal. A maior em quase 100 anos – Expresso (por Jorge Nascimento Rodrigues)
Desde 1928 que a economia portuguesa não regista uma quebra tão elevada, a confirmar-se a previsão do Fundo divulgada esta terça-feira no World Economic Outlook. É um número mais pessimista do que o do Banco de Portugal e aponta para um impacto da covid-19 pior do que o registado com a pandemia da pneumónica e Primeira Guerra Mundial em 1918
A economia portuguesa vai cair 8% em 2020 em virtude do impacto da pandemia da covid-19, segundo a previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgada esta terça-feira com a publicação do World Economic Outlook (WEO) em Washington.
É uma previsão de recessão mais pessimista do que a avançada pelo Banco de Portugal, que apontava para uma contração entre 3,7% e 5,7%. Uma queda de 8% do PIB está dentro do intervalo esperado pelo ministro Mário Centeno, que, em entrevista à TVI na segunda-feira de Páscoa, disse esperar que a recessão fique abaixo dos dois dígitos.
As previsões do Fundo para a economia portuguesa em 2020 apontam ainda para um disparo da taxa de desemprego para mais do dobro – de 6,5% para 13,9% – e para uma queda quebra de preços no consumidor de 0,2%, a entrada numa situação de deflação.
A confirmar-se a previsão do FMI, será a maior quebra do PIB desde 1928, quando a economia portuguesa registou um verdadeiro desastre económico, com uma recessão de quase 10%, a pior desde o início do século XX. Uma outra quebra de quase 8% ocorreria em 1936.
DO CLUBE DOS RAZOÁVEIS PARA O CLUBE DOS PIORES
A recessão de 2020 vai interromper abruptamente a convergência da economia portuguesa com a zona euro que vinha a verificar-se desde 2016, com o PIB português a crescer, então, acima da média da região durante quatro anos consecutivos.
Na realidade, a pandemia do coronavírus vai provocar a passagem de Portugal do clube dos razoáveis (que cresciam acima da média da zona euro, ainda que abaixo da dinâmica dos ‘tigres’, como Irlanda e Malta, por exemplo) para o clube dos piores, emparceirando com um grupo de oito membros do euro que vão registar quebras entre 8% e 10% do PIB, muito mais profundas do que a recessão de 7,5% para o conjunto da zona euro. Esse clube na zona euro junta a Grécia (quebra de 10% do PIB), Itália (9,1%), Letónia (8,6%), Lituânia (8,1%), Espanha, Portugal e Eslovénia (com 8%).
Nessa galeria dos piores em 2020, a economia portuguesa vai registar um desemprego de 13,9%, o terceiro mais elevado da zona euro, depois da Grécia (22,3%) e de Espanha (20,8%), e à frente de Itália e Irlanda. Portugal vai entrar, também, no clube da deflação, ou seja, de quebra de preços no consumidor, um grupo onde também vão estar Espanha, Grécia, Lituânia e Letónia.
MAS RECUPERAÇÃO ACIMA DA MÉDIA DA ZONA EURO
O FMI continua a apostar, como cenário principal, num ciclo do impacto da pandemia próximo de um “V”, com uma recuperação de 4,7% na zona euro e de 5% em Portugal, de novo, com uma dinâmica acima da média da região.
A concretizar-se essa retoma, o desemprego em Portugal cairá para 8,7%, abaixo da média da zona euro, e o país descerá do terceiro para o quinto lugar no clube das economias com desemprego mais elevado. Grécia e Espanha continuarão a liderar o desemprego na União Europeia e França e Itália passarão à frente de Portugal.
A previsão do impacto da profunda recessão de 2020 nas contas públicas portuguesas só será divulgada na quarta-feira quando for publicado o Fiscal Monitor, o relatório da equipa do ex-ministro das Finanças Vítor Gaspar.
O cenário base do FMI de uma recessão profunda à escala mundial (com uma quebra de 3% do PIB mundial) em 2020 seguida de uma recuperação de quase 6% em 2021 está envolto numa “incerteza extrema”, como sublinhou Gita Gopinath, a economista-chefe do Fundo, na apresentação do WEO esta terça-feira.
Incerteza que levou os técnicos do FMI a projetarem três cenários alternativos para a economia mundial em 2020 e 2021, no caso de a pandemia durar mais tempo do que o previsto este ano e poder haver um segundo surto no próximo. Esses cenários implicam uma recessão ainda mais profunda em 2020 e o risco de uma retoma no ano seguinte ir por água abaixo. Num quadro de cenários mais pessimistas, a recessão em Portugal poderá ser mais profunda este ano e a recuperação ficar frustrada.