Fotografias de Gérald Bloncourt são « cápsula do tempo » do 25 de Abril

Um livro com mais de 80 fotografias de Gérald Bloncourt, conhecido como o fotógrafo da emigração portuguesa em França, sobre as celebrações do 1.º de Maio de 1974 em Lisboa, apresentado esta quinta-feira em Paris, é considerado uma “cápsula do tempo”.

O livro « Dias de Liberdade em Portugal » foi apresentado no Consulado-Geral de Portugal na capital francesa e mostra fotografias das manifestações e dos ‘slogans’ políticos, mas também das pessoas a lerem os primeiros jornais sem censura.

O prefácio é do capitão de Abril Vasco Lourenço e a obra foi financiada por um grupo de empresários portugueses em França, Canadá e Portugal.

Mais conhecido por ter mostrado ao mundo as condições de vida dos emigrantes portugueses nos chamados « bidonville » aquando a sua chegada a França nos anos 60, o fotógrafo franco-haitiano Gérald Bloncourt foi também um « espetador privilegiado » dos dias que se seguiram à Revolução do 25 de Abril, tendo estado em Portugal entre 30 de abril e 02 de maio de 1974.

« Como historiador e amigo foi uma descoberta perceber que ele tinha uma parte do seu espólio praticamente inédito e desconhecido que se interligava com outro momento importante da história contemporânea portuguesa, nomeadamente os primeiros dias de liberdade em Portugal”, disse à agência Lusa Daniel Bastos, historiador e um dos autores do livro « Dias de Liberdade em Portugal », que reúne fotografias de Bloncourt.

Para Daniel Bastos, “Gérald Bloncourt foi um espetador privilegiado dos primeiros dias de liberdade em Portugal », considerando que o trabalho do fotógrafo sobre este período é « uma pequena cápsula do tempo da história portuguesa preservada ».

O fotógrafo, falecido em outubro de 2018, chegou a Portugal no dia 30 de abril de 1974 no mesmo avião que Álvaro Cunhal, líder do Partido Comunista, que também seguia de Paris.

Depois de fotografar a chegada de Álvaro Cunhal a Portugal, Gérald Bloncourt terá passado três dias sem dormir e a fotografar as celebrações espontâneas nas ruas de Lisboa, os militares e a manifestações do 1.º de Maio após a revolução.

« Foram momentos marcantes que o acompanharam sempre na sua vida. Recordo palavras em que o Gérald Bloncourt se identificava com os protagonistas anónimos que captou. Ele estava irmanado destes sonhos, destas utopias e deste desejo de liberdade », afirmou ainda o historiador português.

Gérald Bloncourt fez parte de um grupo revolucionário no Haiti, país onde nasceu em 1926, filho de mãe francesa e pai guadalupense, tendo sido obrigado a sair do seu país natal para se instalar em Paris nos anos 40.

« Este livro conta uma revolução bem-sucedida e mostra essa felicidade. Ele queria também ter feito a revolução no Haiti, não conseguiu e deixou o seu país. Mas ao ver esta multidão portuguesa, feliz com a sua revolução, foi para ele um momento extraordinário », afirmou Isabelle Repiton-Bloncourt, filha do fotógrafo, na apresentação do livro.

Em declarações à Lusa em 2015, Gérald Bloncourt recordou a presença em Portugal.

« Como estava em contacto com eles [os emigrantes portugueses], avisaram-me da Revolução dos Cravos. Fui logo a Portugal de avião, encontrei um lugar e estava no mesmo avião que [Álvaro] Cunhal. Os camaradas dele cantavam e batiam com os pés e a hospedeira foi-lhes pedir para parar. Vivi a Revolução dos Cravos. Foi uma coisa incrível », descreveu então.

Gérald Bloncourt foi condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique, pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, durante as comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que decorreram entre 10 e 12 de junho de 2016, em Paris.

Alfa/Lusa

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