Os candidatos da França Insubmissa, força política liderada por Jean-Luc Mélenchon, às eleições legislativas de junho preveem um reforço significativo da representação parlamentar de esquerda, mesmo se a nível nacional fique aquém da maioria.
« Estamos bem posicionados. Mesmo se não ganharmos a maioria, teremos muitos deputados e teremos uma capacidade de influenciar a política e travar a política desastrosa de [Emmanuel] Macron [Presidente] para a França », disse Pascal Novais, candidato da Nova União Popular Ecologista e Social (Nupes) em Seine-et-Marne, em declarações à Agência Lusa.
O candidato da esquerda, que pertence à França Insubmissa, força política liderada por Jean-Luc Mélenchon, mostra-se confiante para o embate com a recandidata no círculo eleitoral e atual deputada da maioria de Macron.
« É mesmo possível ganhar, aqui temos uma deputada do partido do Presidente, mas Macron está num momento difícil devido à política que fez até agora. Toda a gente tinha grandes expectativas, mas agora vê-se que eram mentiras. A deputada desta circunscrição trabalhou na Assembleia, mas não fez qualquer trabalho local », defendeu Novais, filho de portugueses e o candidato da esquerda na 9ª circunscrição do departamento de Seine-et-Marne, na região parisiense, abrangendo três grandes cidades desse território.
A confiança de que uma maioria liderada por Mélenchon pode mesmo vir a formar um Governo é partilhada por muitos dos 577 candidatos apresentados pela união das esquerdas, chamada Nupes, que agregou a França Insubmissa, os comunistas, os ecologistas e os socialistas.
« As pessoas estão muito desiludidas em França porque Mélenchon estava tão próximo de chegar à segunda volta das presidenciais e não chegou, ganhando depois Macron. Portanto um Governo de esquerda é possível e está nas nossas mãos consegui-lo », indicou Emmanuel Fernandes.
Este franco-português é o candidato da Nupes na circunscrição que abrange o sul de Estrasburgo. Responsável de projetos numa metalúrgica, Fernandes é sindicalista e está com Mélenchon desde 2012, sendo a primeira vez que se candidata numa lista eleitoral.
Já em campanha, o candidato refere que as maiores preocupações dos franceses se prendem com a economia e as condições sociais no país.
« Há uma urgência social, o poder de compra, a inflação, os preços da energia. Portugal, com os espanhóis, teve uma boa iniciativa que foi sair do sistema de preços europeus da energia. Portanto é possível desobedecer à Europa. Nós vamos fazer isso para a energia, para os alimentos, vamos aumentar o salário mínimo para 1.600 euros líquidos por mês », declarou.
Uma sondagem Ifop-Fiducial para o canal de televisão LCI indicou esta semana que a Nupes pode obter entre 170 a 205 deputados, um aumento significativo na esquerda que tirará a maioria absoluta ao partido do Presidente, o República em Marcha, que se candidata numa coligação, chamada Ensemble, com outros partidos.
Caso a Nupes consiga uma maioria na Assembleia, Mélenchon deverá ser nomeado pelo Presidente como primeiro-ministro e caberá depois à esquerda formar um novo Governo com o país a entrar num período de coabitação em que Presidente e Executivo têm diferentes cores políticas.
Esta perspetiva abre o caminho a novas caras na Assembleia Nacional, incluindo muitos jovens. Célia Pereira é a candidata da Nupes no círculo eleitoral que abrange o centro de Lille, tem 22 anos e está a terminar o mestrado em recursos humanos. Apesar da sua juventude, há muitos anos que milita por diversas causas.
« No meu liceu havia problemas em relação aos transportes e à cantina, logo comecei a bater-me pelos nossos direitos nessa altura e hoje constato que conseguimos resultados. Depois começaram a dizer-me que tinha jeito para a política e eu comecei a interessar-me cada vez mais », disse a jovem franco-portuguesa.
Desiludida por Mélenchon não ter chegado ao Eliseu, Célia Pereira diz que a esquerda voltou a ganhar força nas últimas semanas e está pronta para o combate em toda a França.
« Foi muito complicado quando não passámos na primeira volta. Foi como se eu tivesse perdido alguém da minha família. As duas semanas a seguir foram duras. Ganhámos forças, voltámos ao combate e sabemos que há possibilidades de ganhar nas legislativas. Vamos dar tudo », garantiu.
Embora admita que a vitória no seu círculo eleitoral é difícil, a candidata pensa conseguir chegar à segunda volta e espera que mais jovens deputados sejam eleitos para a Assembleia Nacional.
« A idade média da Assembleia Nacional é 49 anos e como é que queremos defender os direitos dos estudantes e as condições de vida da juventude, quando estamos completamente longe deste tema? É preciso jovens para falar da realidade e nada melhor do que dar a palavra a esses jovens », concluiu.
Depois da vitória de Macron na segunda volta das eleições presidenciais em abril, sobre a candidata de extrema-direita Marine Le Pen, as legislativas vão definir a composição do próximo parlamento.
A primeira e segunda voltas das eleições legislativas estão marcadas, respetivamente, para 12 e 19 de junho.
Com Agência Lusa.