França: Entra em vigor o polémico ficheiro de rastreio “Contact Covid”

França: Entra em vigor o polémico ficheiro de rastreio “Contact Covid”. Dados pessoais de doentes ou suspeitos de contaminação passam a estar registados para consulta pelas autoridades. Conselho de Ministros decorreu sob o fantasma de um segundo surto de coronavírus

Alfa/Expresso – Por Daniel Ribeiro (adaptação)

Emmanuel Macron de máscara protetora numa visita a uma escola em Poissy

REUTERS

Um polémico ficheiro informático destinado a seguir passos a passo os infetados com o coronavírus e as pessoas com quem estiveram em contacto foi autorizado por decreto e entra em vigor imediatamente. Trata-se de umas das medidas mais polémicas publicadas pelo Governo francês no Journal Officiel (equivalente ao Diário da República) no mesmo dia, esta quarta-feira, em que o Conselho de Ministros se debruçou exclusivamente sobre a evolução da pandemia em França.

Ao ficheiro terão acesso médicos, mesmo os que são profissionais liberais, bem como o pessoal hospitalar, de centros de saúde e de “brigadas” especiais dos serviços da segurança social. O ficheiro visa “identificar e orientar” os doentes ou aqueles que estiveram em contacto com estes e que, por esse motivo, são também considerados “de risco”.

O ficheiro incluirá a identificação da pessoa infetada ou suspeita de o ser, número de telefone e morada pessoal, bem como local de trabalho e mesmo nomes e moradas de amigos habituais com quem convive normalmente. Centros de investigação biológica e outros laboratórios também poderão ter acesso a estes dados.

MACRON: “NÃO É A ALTURA DE CANTAR VITÓRIA”

O Conselho de Ministros foi marcado por otimismo muito contido, dois dias depois do início do desconfinamento parcial do território. Toda a vasta e muito povoada zona de Paris e as regiões norte e leste do país continuam atingidas por fortes surtos do vírus, na chamada zona “vermelha” (a mais infetada).

“Não é a altura de cantar vitória”, exclamou o Presidente Emmanuel Macron durante a reunião, segundo uma porta-voz do Governo. O Conselho de Ministros confirmou que as fonteiras terrestres continuarão fechadas, provavelmente até 15 de junho, com Espanha e provavelmente também com a Alemanha.

Em Paris, os jardins e parques continuam fechados, apesar de pedidos em sentido contrário da presidente da Câmara, Anne Hidalgo. Em todo o país, ao contrário do que estava programado, apenas pouco mais de 20% das creches e escolas foram abertas esta quarta-feira, ao contrário do que estava previsto.

A crise sanitária continua grave em França, com o registo, terça-feira, de mais 348 mortos, segundo o último balanço. No total já se contabilizam cerca de 27 mil óbitos em França desde 1 de março. O país soma 178 mil infetados e perto de 58 mil recuperados.

CISÃO NA BANCADA DO GOVERNO

Algumas dezenas de deputados, da sensibilidade “dita mais socialista” da maioria parlamentar (do partido LREM, República em Marcha), em divergência com Macron e com o Executivo há alguns meses, ameaçam formar um grupo parlamentar autónomo. A confirmar-se, seria o fim da maioria parlamentar de apoio ao Executivo de Édouard Philippe.

Algumas fontes indicam que as tensões têm sido grandes entre Macron e Philippe, designadamente sobre a estratégia a seguir para legislar, na maior das urgências, por decreto (sem aprovação pelo Parlamento), para apoiar a economia, as empresas, o trabalho, os desempregados, a justiça, os trabalhadores da saúde, os da educação e os sem-abrigo. Segundo projeções da UE, o PIB francês deverá recuar 8,2% em 2020 devido à pandemia e o défice público deverá atingir cerca de 10%.

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