Um grupo de 15 franceses seguiu esta semana um mini-curso de cozinha com o ‘chef’ franco-português Steven dos Santos, no restaurante “La Rive Droite”, em Paris, onde aprenderam a fazer pastéis de nata e a ultrapassar preconceitos.
O grupo estava animado antes de lançar literalmente mãos à massa no supermercado ‘Grande Épicerie’, no 16.º bairro de Paris, onde fica localizado o restaurante “La Rive Droite”. Desde maio que o supermercado de luxo na capital francesa tem levado a cabo uma operação de promoção de produtos portugueses, financiada pela AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal e o mini curso de cozinha é o culminar da iniciativa.
Todos os participantes são recebidos pelo ‘chef’ de 30 anos, filho de pais portugueses oriundos da região de Aveiro. Steven dos Santos nasceu já em Paris, formou-se em cozinha, tendo trabalhado em restaurantes distinguidos com estrelas e está agora à frente do “La Rive Droite”.
« Eu não era muito bom na escola e na altura era preciso escolher uma profissão. Lembro-me sempre de ver o meu pai a cozinhar, sempre comida portuguesa, claro, e o amor da cozinha veio daí », explicou Steven dos Santos à agência Lusa.
Após as mãos lavadas, avental posto e lugar assumido na mesa de trabalho, os segredos dos pastéis de nata abriram-se aos franceses que se inscreveram para esta atividade. O creme foi feito pelo ‘chef’, sob o olhar atento de Elisabete Frias Delabarre, que ia questionando sobre os passos da confeção da iguaria lusa.
A empresária de recursos humanos instalada na região parisense nasceu em Portugal, mas vive em França desde 1 ano de idade. O caminho para se reaproximar das suas raízes tem sido longo e tem passado pela cozinha. Veio até ao “La Rive Droite” para ter a certeza de que os seus pastéis de nata andavam a ser bem feitos em casa.
« A cozinha portuguesa é algo muito familiar e que usa muitos produtos frescos, não há coisas muito industrializadas. Eu tinha vontade de voltar a isso e, como gosto de cozinhar, já fiz pastéis de nata em casa », declarou.
No entanto, a receita de Steven dos Santos não cumpre os cânones nacionais. Para adaptar ao gosto francês e facilitar a introdução deste bolo em França, o ‘chef’ explica que trocou a canela pela baunilha por ser um sabor mais familiar para os gauleses.
Se o creme ficou a cargo do ‘chef’, o momento de enformar a massa ficou para os participantes. Para alguns dos presentes era uma estreia na pastelaria e moldar a massa folhada nas formas de alumínio revelou-se um desafio, mas o formador ia ajudando e motivando os alunos, lembrando a importância de deixar um rebordo sólido para que o creme não escorra.
Steven dos Santos lidera agora seis pessoas na cozinha do “La Rive Droite” e cabe-lhe fazer os menus e pensar no conceito do restaurante, apostando em ementas sazonais e escolhendo os seus fornecedores.
No seu restaurante, o ‘chef’ gosta de servir porções « generosas » como em Portugal, mas só agora, com a divulgação dos produtos portugueses, teve oportunidade de incluir alguns pratos no menu.
« Eu quis muito integrar certas coisas da cozinha portuguesa. Todas as semanas, durante um mês e meio, fizemos pastéis de bacalhau, polvo à lagareiro, pastéis de nata, bolo de bolacha e também pudim caseiro. Os clientes adoraram e ficaram tristes quando acabou », referiu.
Com uma curiosidade por diferentes cozinhas, as amigas Charlotte, Caroline e Emeline inscreveram-se neste curso de cozinha porque gostam de viajar e fazer atividades em conjunto. Dizem que « não é difícil » fazer pastéis de nata, mas não têm a certeza que em casa corra tão bem.
Quando questionadas sobre que ideias associam a Portugal, as palavras das três amigas franceses são bastante positivas.
« Faz-me pensar na música, no fado », disse Charlotte, enquanto Caroline indicou que o país está muito ligado « à comida » e que em todas as cidades francesas « há um bom restaurante português ». Das três viagens que já fez a Portugal, Emeline destacou « a simpatia e autenticidade das pessoas ».
Mas esta imagem de Portugal é recente e não foi com essa imagem que Elisabete cresceu na região parisiense.
« Numa certa altura aqui em França, eu tinha quase vergonha de dizer que era portuguesa porque estava associado a certos preconceitos, era algo negativo. Há cerca de sete anos as coisas começaram a mudar, hoje os franceses vivem em Portugal, e eu comecei a querer saber mais sobre o meu país e hoje é um orgulho para mim », disse Elisabete Dias Delabarre.
Para Steven dos Santos ainda falta em Paris um restaurante português que « saia um pouco da cozinha mais tradicional », mas este jovem ‘chef’ tem o sonho de abrir um negócio em Portugal, mais precisamente no Douro, introduzindo os portugueses à cozinha francesa.
« Eu quero abrir algo no Douro, um alojamento local com um restaurante bom, onde as pessoas se sintam à vontade. Gostava de trazer algumas coisas boas que se fazem em França, como, por exemplo, os croissants », contou Steven dos Santos.
Quando os pastéis de nata saíram do forno, os alunos aplicados levaram para casa não só bolos quentinhos, a receita e os truques técnicos, mas sobretudo um momento de partilha sobre Portugal e a sua gastronomia.
*** Catarina Falcão, da agência Lusa ***