Greve geral em França. « Quinta-feira negra » contra sistema de pensões

Alfa/TSF / Por Lígia Anjos, correspondente da TSF em Paris

É uma greve « ilimitada » que promete parar o país devido a uma polémica proposta de Macron, que pretende tornar as reformas num sistema por pontos.

Esta quinta-feira, França vai viver um importante movimento social que se levanta contra a reforma do sistema de pensões.

Hospitais, transporte de emergência, ambulâncias, bombeiros, escolas, justiça, estudantes vão mobilizar-se contra a reforma do governo francês. No setor dos transportes, o movimento vai ser massivo. Em Paris, 90% dos comboios foram cancelados e 11 linhas de metro vão estar encerradas.

Prevê-se que esta greve « ilimitada » afete sobretudo a rede de comboios nacional (SNCF), mas também a rede de transportes públicos parisiense (RATP). Os franceses temem reviver a paralisação de 1995, que obrigou o governo de Alain Juppé a recuar as suas reformas sociais.

Uma proposta polémica

O objetivo do projeto governamental de Emmanuel Macron é transformar o sistema de reformas por repartição, baseado na solidariedade intergeracional, num sistema de reformas por pontos. Segundo o economista e filósofo francês Frédéric Lordon, esta reforma projetada pelo governo francês é « uma maravilhosa máquina para enganar os reformados ».

O conselheiro da Confederação Geral do Trabalho (CGT) para as reformas, Régis Mazzasalma, tem esperança de que o governo volte atrás. Para o sindicalista, « o governo está encostado à parede, não consegue justificar em que medida esta reforma pode ser melhor para os trabalhadores e reformados. Pelo contrário, o governo usa retóricas e de desqualificar argumentos em vez que mostrar na prática as medidas que propõe. »

O governo garante que não há volta a dar e que vai avante com a reforma do sistema de pensões. Nas fileiras do partido d »A República em Marcha, partido no poder, os deputados tentam esconder as preocupações perante o movimento de greve « ilimitado ».

« Primeiro deixemo-nos de catastrofismos. Em França conhecemos bem as greve sociais, eu próprio participei em greves », afirma o deputado do partido, Julien Chavanne.

Na ala da maioria parlamentar há quem esteja menos confiante quanto à greve. « Estaríamos a mentir se falarmos de uma pequena greve sem importância. Quinta-feira à noite faremos um balanço completo desta manifestação e das consequências que tiveram para os trabalhadores e trabalhadoras que não vão poder ir trabalhar. Não podemos esquecer-nos deles », descreve o deputado do LREM, Bruno Questel.

Para muitos dos deputados do « em Marcha » esta vai ser primeira prova social, explica o deputado Laurent Saint-Martin. O deputado apoia os colegas do partido no poder e descreve uma situação « complicada que implica coragem e resistência e resiliência. Se não estivermos à altura disto mais vale parar imediatamente ».

Se o governo voltar atrás não será possível avançar com novas reformas. O segundo ato decisivo do quinquénio de Emmanuel Macron joga-se agora nesta reforma do sistema de pensões.

À procura de soluções

A greve nacional vai espalhar-se por todo o país e, quanto aos transportes públicos, o dia de quinta-feira vai dificultar os acessos aos locais de trabalho e escolas. Há quem já tenha previsto todos os cenários para chegar a horas ao trabalho e há quem, por prudência, prefira ficar em casa.

« Não estou a pensar ir trabalhar porque tenho um filho, caso consiga chegar ao trabalho e não consiga voltar para casa é impossível. Vivo em Argenteuil, tenho de apanhar quatro tipos de transportes diferentes, entre comboios e metro, nesta configuração é impossível », queixa-se esta cidadã.

Muitas pessoas decidiram ir para o trabalho de bicicleta, mas nem todos. É o caso de um estudante: « A minha mãe não me deixaria andar de bicicleta, então vou optar pelo Uber ou boleias… Vamos tentar assim. »

Ainda assim, muitos trabalhadores vão optar pelo automóvel ou trotinete. « Posso ir de carro ou de trotinete, vamos adaptar-nos. Posso ainda falar com o meu chefe e trabalhar a partir de casa. Posso trabalhar à distância », descreve um trabalhador em Paris.

Muitos outros têm medo de perder o trabalho. « Se aderirmos à greve não vai ser bem aceite pelo empregador, mas posso talvez tirar um dia de folga », explica este cozinheiro que vai apoiar os grevistas.

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