Grevistas da CGD França receberam deputado do BE e vão a Belém

Os trabalhadores em greve da sucursal francesa da Caixa Geral de Depósitos vão ser recebidos em Belém, Lisboa, e contaram, hoje, em Paris, com o apoio do deputado bloquista Moisés Ferreira no quinto protesto « contra a alienação » da sucursal.

À oitava semana de greve, durante a manifestação junto ao Consulado-Geral de Portugal, Moisés Ferreira reafirmou a solidariedade do Bloco de Esquerda com os grevistas, cerca de um mês depois de a deputada Mariana Mortágua se ter disponibilizado, em Paris, para « dar voz e megafone » à sua luta.

« Seja megafone, altifalante ou outra coisa qualquer, aquilo que nós queremos é efetivamente dar visibilidade a esta luta e torná-la mais visível também em Portugal porque é preciso que em Portugal se saiba que aqui se está a defender o interesse público », afirmou à Lusa Moisés Ferreira.

O deputado acrescentou que vai « recolher o que está a acontecer aqui para levar ao parlamento, para levar ao Governo » e que o Bloco de Esquerda vai fazer novas perguntas ao executivo de António Costa sobre a situação da CGD em França, nomeadamente sobre ações judiciais movidas contra dirigentes sindicais e contra os membros da comissão de negociação dos trabalhadores em greve.

« Para nós é injustificável e inadmissível que qualquer administração atue desta forma, tentar intimidar e tentar fazer tábua rasa dos direitos do trabalho. Portanto, sendo inadmissível, nós vamos exigir junto do Governo e da Assembleia da República que seja tomada uma posição quanto a esta posição de força da administração da Caixa Geral de Depósitos », afirmou o deputado que foi membro das duas comissões parlamentares de inquérito à CGD.

Moisés Ferreira disse, também, que, depois das reuniões, em Paris, de Mariana Mortágua com os trabalhadores grevistas, a 09 de maio, o BE questionou o executivo, através de uma pergunta escrita, sobre a alienação da sucursal francesa da CGD e sobre o movimento de greve, mas « o Governo ainda não deu resposta ».

Cristina Semblano, porta-voz da intersindical FO-CFTC, adiantou à Lusa que « uma pequena delegação » de trabalhadores em greve vai ser recebida em Belém, a 21 de junho, pelos assessores para os assuntos do trabalho e para a economia, em resposta ao « pedido de audiência urgente ao Presidente da República », enviado em 29 de maio.

A responsável, que é também membro da comissão de negociação dos trabalhadores em greve, afirmou que o objetivo da audiência é mostrar as razões que justificaram o movimento de greve que « está a ser gerido de forma muito pouco célere » pela direção, o que « tem impacto ao nível comercial, financeiro e ao nível de reputação e imagem » do banco público.

« A França é um país que tem uma imigração portuguesa muito importante, de mais de um milhão de pessoas. Por conseguinte, nós estimamos que a sucursal de França deve ser mantida no perímetro das instituições da Caixa Geral de Depósitos. É um ativo que não deve ser alienado. Dirigimo-nos ao Presidente da República porque temos sentido sempre, desde a sua eleição, que a emigração é algo que o preocupa », afirmou.

De acordo com Cristina Semblano, a notificação que a intersindical FO-CFTC e os membros da comissão de negociação dos trabalhadores em greve receberam para comparecerem a uma audiência por « delito do abuso do direito de greve », a 12 de junho, no Tribunal de Grande Instância de Paris, « só vai revoltar ainda mais os trabalhadores » e adiantou que « as pessoas continuam determinadas ».

Cristina Semblano precisou que nesse dia a Justiça francesa se deve também pronunciar sobre « o delito de entrave por não entrega do plano de reestruturação da CGD », que já tinha dado entrada junto no Tribunal de Grande Instância e que foi apresentado pela comissão de trabalhadores.

O protesto de hoje foi o segundo desta semana e o quinto desde o início do movimento, estando marcada nova manifestação, para esta sexta-feira, junto à Embaixada de Portugal em França, no dia em que há uma receção de comemoração do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

A porta-voz da intersindical FO-CFTC avançou, também, que « para a semana vão haver novas manifestações », incluindo uma junto à sede da Autoridade de Controlo e de Resolução, o organismo francês de supervisão dos bancos.

A greve na sucursal em França da Caixa Geral de Depósitos, que tem 48 agências e mais de 500 trabalhadores, começou a 17 de abril e foi apoiada pela intersindical francesa FO-CFTC, mas não foi seguida pelos sindicatos CGT e CFDT.

Na terça-feira, à margem de uma conferência organizada pela Caixa Geral de Depósitos, em Setúbal, o presidente da Comissão Executiva da CGD, Paulo Macedo, escusou-se a comentar o conflito com os trabalhadores da sucursal em França e as notícias divulgadas nos últimos dias sobre a alegada intenção do banco de encerrar 75 balcões até final deste mês.

A redução da operação da Caixa Geral de Depósitos fora de Portugal (nomeadamente Espanha, França, África do Sul e Brasil) foi acordada em 2017 com a Comissão Europeia como contrapartida da recapitalização do banco público.

Em 24 de maio, o Governo aprovou os cadernos de encargos com as condições para a venda dos bancos da Caixa Geral de Depósitos na África do Sul e em Espanha, segundo comunicado de Conselho de Ministros.

Em 10 de maio, Paulo Macedo afirmou querer manter a operação da CGD em França e adiantou que está a negociar isso com as autoridades, apesar de ter sido também acordada a sua venda, mas acrescentou que isso só acontecerá se a « operação for sustentável, rentável e solidária » com os esforços feitos pelo banco.

Alfa/Lusa

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