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Abalada por denúncia de abusos sexuais contra menores, igreja francesa pede dinheiro aos fiéis para pagar indemnizações e fala em prevalência do segredo da confissão sobre as leis da República.
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O bispo de Reims e presidente da Conferência Episcopal francesa, Eric De Moulins Beaufort, causou indignação ao pedir ajuda financeira aos fiéis para pagar indemnizações por abusos sexuais cometidos por padres. Foto : François Nascimbeni/Afp/Getty Images
Bispos franceses aceitam indemnizar vítimas de abusos sexuais cometidos ao longo de décadas, mas querem lançar um peditório junto dos fiéis para reparar os danos causados, o que causa indignação entre os envolvidos. Igreja francesa reclama ainda a prevalência do segredo da confissão sobre as leis da República
Por Daniel Ribeiro. Alfa/Expresso. (Adaptação Alfa). Leia artigo na íntegra em Expresso.pt
« França continua sob o choque dos números estonteantes de vítimas — 330 mil — de crimes de abuso sexual sobre menores cometidos diretamente pelo clero católico no país (216 mil) ou por leigos que trabalharam em instituições religiosas desde os anos 1950 até 2020.
A comissão independente dirigida por Jean-Marc Sauvé, que revelou o escândalo após dois anos e meio de investigações, preconiza uma indemnização às vítimas de um fenómeno descrito como “de massa” e “sistémico”. Os peritos propõem o reconhecimento da responsabilidade civil e social da Igreja francesa. »
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A igreja já reagiu à proposta, que inclui “individualizar” o cálculo da indemnização devida a cada uma das vítimas para reparar os danos provocados, recorrendo eventualmente aos tribunais. O episcopado não nega a necessidade de reparação monetária, mas refere que a Igreja francesa “é pobre e só tem dinheiro para pagar aos seus trabalhadores”.
Um dos dirigentes evocou mesmo a possibilidade de um peditório junto dos crentes. “Espero que os fiéis nos ajudem a pagar”, declarou na quarta-feira Monsenhor Éric de Moulins-Beaufort, presidente da Conferência Episcopal francesa. O também bispo de Reims referiu que este caso pode acentuar as dificuldades financeiras atuais da igreja gaulesa.
A ideia de lançar um peditório junto dos fiéis para pagar pelos crimes dos padres provocou imediata celeuma. Algumas vozes instaram a Igreja a “vender património”, porque foram precisamente fiéis e seus filhos e filhas que foram abusados.
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O escândalo é assunto de conversa em todo o país, em reuniões de famílias, jantares privados ou em cafés e bares. O bispo Moulins-Beaufort lançou achas para a fogueira da polémica ao dizer que o episcopado reafirma a “omnipotência do segredo da confissão”, mesmo em casos que envolvem diretamente clérigos. “O segredo da confissão é mais forte do que as leis da República, porque abre um espaço de palavra livre que se faz perante Deus”, sustenta.
![O presidente da Comissão independente que investigou os abusos sexuais, Jean-Marc Sauve, durante o anúncio das conclusões](https://images.impresa.pt/expresso/2021-10-07-GettyImages-1235706082.jpg-e4dd3930/3x2/mw-320)
O presidente da Comissão independente que investigou os abusos sexuais, Jean-Marc Sauvé, durante o anúncio das conclusões. Foto: Thomas Coex/Afp/Getty Images
Na classe política fala-se de “declarações inaceitáveis e particularmente graves” no contexto atual. “Onde estão os que defendem a separação [entre Estado e igreja] quando um muçulmano fala e nada dizem quando um bispo apela aos padres para ignorarem a lei da República sob pretexto religioso?”, perguntaram Corinne Narassiguin, secretária nacional do Partido Socialista, e Manon Aubry, deputada europeia do partido França Insumissa (esquerda radical).
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No seu relatório, a Comissão Independente sobre os Abusos Sexuais na Igreja aconselha a instituição a transmitir uma mensagem clara aos confessores para assinalarem às autoridades judiciais e administrativas “os casos de violências sexuais infligidas a um menor ou pessoa vulnerável”.
Reagindo diretamente a esta recomendação, a Conferência Episcopal francesa declarou: “Não é permitido a um padre de usar o que ouve em confissão, portanto, não pode em nenhum caso transmitir às autoridades judiciais o que ouviu do autor [do crime], da vítima ou de uma testemunha”. Os bispos acrescentam que a sanção neste caso será a “excomunhão”.
Para o Ministério da Administração Interna, que tem autoridade sobre os cultos em França, o Código Penal é claro: o segredo da confissão “não é superior às leis da República” em casos de violações ou abusos sexuais sobre menores de 15 anos e outras pessoas vulneráveis. “Um padre não deve respeitar o segredo da confissão em casos de violências sexuais ou abusos de menores”, explicou a jurista e professora de direito Christine Lazerges.
O Papa Francisco também defende o segredo da confissão, mas evocou “uma imensa dor” perante a “horrível realidade” e aconselhou a igreja de França a lançar-se na “via da redenção”, segundo o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni. A instituição gaulesa, abalada pelas revelações e a dimensão gigantesca dos crimes, evocou a sua “vergonha” e pediu “perdão” às vítimas.
(Leia este artigo na íntegra em Expresso.pt)
Ouça, na Rádio Alfa, esta sexta-feira, 08, a crónica do jornalista Ricardo Figueira sobre este assunto