Jérôme Rodrigues divide portugueses de França: “Tivesse ficado em casa”

Jérôme Rodrigues, luso-francês e um dos mais conhecidos “coletes amarelos” de França, confirmou que perdeu definitivamente a visão no olho direito depois de incidentes numa manifestação em Paris. Os portugueses de França reagem de forma diversa e apaixonada: uns apoiam-no e outros atacam-no duramente. “Vai trabalhar malandro”… “Mais um Camões, ainda bem que não perdeste os dois olhos”, escreveram dois nas redes sociais. Mas há quem escreva de Lisboa: “Portugal, precisava de um homem aqui como o Jérôme Rodrigues, é pena que ele não queira vir para Portugal com o colete amarelo”.

Alfa/Expresso. Por Daniel Ribeiro

Jérôme Rodrigues, de 39 anos, nascido em França e filho de pai português natural da região de Coimbra e mãe francesa, fala português e confirmou que perdeu o olho direito depois de incidentes muito violentos numa manifestação dos “coletes amarelos” no dia 25 de janeiro na Praça da Bastilha em Paris.

Na altura filmava os acontecimentos com o telemóvel e, como habitualmente, andava de “colete” e de cara destapada. Imagens independentes confirmam isso e até que ele tentava, no momento em que foi atingido no olho, convencer alguns “coletes” seus camaradas e amigos a saírem da zona mais perigosa, onde os confrontos com a polícia eram muito duros.

Agora, mesmo sem um olho, continua a participar muito ativamente no movimento nascido em novembro na internet e a atacar o Presidente Macron. Acusa-o a ele e ao Governo, e não à polícia, de serem os responsáveis pela violência. “Macron, vais pagar!”, escreveu no Facebook depois de os médicos terem confirmado nas últimas horas a perda da visão no olho direito.

Com um discurso político radical é, no entanto, um pacifista. Disse-o numa entrevista ao Expresso e à Rádio Alfa e repete-o a toda a hora. De facto, não é de modo algum um extremista e muito menos um “casseur” (vândalo).

Nos cafés e restaurantes portugueses da região parisiense, o seu caso é assunto de debate e por vezes em discussões apaixonadas, que terminam frequentemente em gritarias nas quais ninguém se entende.

Nas redes sociais, a controvérsia em torno dele também se incendiou com centenas, talvez milhares de comentários.

Por exemplo, José Manuel Saraiva, escreveu que ele está a destruir a imagem dos portugueses de França: “Gerações que envergonham seus pais e avós emigrantes. Esses sim sofreram e dignificaram os emigrantes portugueses e Portugal”.

Também Aldina Loureiro escreveu: “Mais um Luís de Camões, ficasse em casa que estava bem…. as manifestações que fazem é só a fazer porcaria e estragar… temos pena.”

Mas Jérôme também recebe muitas mensagens de apoio. Eurico Baptista lamentou as críticas que lhe fazem, deste modo: “Pois realmente, agora já percebo por que é que Portugal não sai da « cepa torta »! Com essa mentalidade de ficar em casa e ver o país a ser saqueado…”.

Pelo seu lado, Luísa Escudeiro Cruz comentou: “… pois é, se houvesse muitos Jérôme Rodrigues na rua talvez aqui ou noutros países houvesse menos injustiças!!!”.

Apesar de boa parte dos comentários serem críticos, alguns desejam-lhe boa sorte e coragem para continuar a luta, mesmo em Portugal, país que ele adora (segundo Jérôme disse ao Expresso quando ainda estava no hospital).

É o caso de Isabel da Silva, que escreve, aparentemente de Lisboa: “Portugal, precisava de um homem aqui como o Jérôme Rodrigues, é pena que ele não queira vir para Portugal com o colete amarelo”.

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