O juiz Carlos Delca adiou o início da fase instrutória do processo do ataque à Academia do Sporting, em Alcochete, prevista começar na quarta-feira, em Lisboa, disse hoje à agência Lusa o Tribunal de Instrução Criminal do Barreiro.
O processo pertence ao Tribunal de Instrução Criminal (TIC) do Barreiro, mas, por razões de logística e de instalações, o juiz Carlos Delca determinou que a instrução, fase facultativa em que um juiz de instrução criminal decide se o processo segue e em que moldes para julgamento, decorra na nova sala do Campus da Justiça, no Parque das Nações, em Lisboa.
Contactado hoje pela Lusa, fonte do TIC do Barreiro indicou que a sessão de quarta-feira “ficou sem efeito”, devido ao facto de um dos advogados ter pedido o afastamento do juiz Carlos Delca, não havendo, para já, uma nova data para o início da fase de instrução, que assim fica “suspensa”.
Fonte judicial explicou à Lusa que o incidente de recusa suscitado por este advogado vai ser agora analisado e decidido pelo Tribunal da Relação de Lisboa.
Para quarta-feira estavam agendados interrogatórios a três dos arguidos.
Carlos Delca – que foi o juiz da fase de inquérito e será o juiz desta fase instrutória – tinha marcado para 13 de março, às 10:00, a audição do antigo presidente do Sporting Bruno de Carvalho e a inquirição de testemunhas por si indicadas.
A fase de instrução foi requerida por mais de uma dezena de arguidos, entre os quais o ex-presidente do Sporting e o antigo oficial de ligação aos adeptos do clube Bruno Jacinto.
Em janeiro deste ano, o TIC do Barreiro declarou a especial complexidade do processo da invasão à Academia do Sporting, pedida pelo Ministério Público, o que, consequentemente, dilatou o prazo de prisão preventiva dos arguidos.
Esta decisão teve como consequência direta o alargamento do prazo (até 21 de setembro deste ano) para que o TIC do Barreiro profira a decisão instrutória (se o processo segue para julgamento), sem que 23 dos arguidos sejam colocados em liberdade.
Os primeiros 23 detidos pela invasão à academia e consequentes agressões a técnicos, futebolistas e outros elementos da equipa ‘leonina’, ocorridas em 15 de maio do ano passado, ficaram todos sujeitos à medida de coação de prisão preventiva em 21 de maio.
Em 15 de novembro, exatamente seis meses após o ataque à academia, a procuradora Cândida Vilar (que será a procuradora do Ministério Público na fase de instrução), do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa, deduziu acusação contra 44 arguidos, incluindo o ex-presidente do Sporting Bruno de Carvalho e ‘Mustafá’, líder da claque Juventude Leonina.
Dos 44 arguidos do processo, 38 mantêm-se sujeitos à medida de coação mais gravosa: a prisão preventiva. Os restantes seis arguidos estão em liberdade, incluindo Bruno de Carvalho e o líder da claque ‘Juve Leo’, que estão ambos obrigados a apresentações diárias às autoridades.
O antigo oficial de ligação aos adeptos do clube Bruno Jacinto está entre os arguidos presos preventivamente, sendo acusado da autoria moral do ataque, tal como Bruno de Carvalho e ‘Mustafá’.
Aos arguidos que participaram diretamente no ataque, o MP imputa-lhes a coautoria de crimes de terrorismo, 40 crimes de ameaça agravada, 38 crimes de sequestro, dois crimes de dano com violência, um crime de detenção de arma proibida agravado e um de introdução em lugar vedado ao público.
Bruno de Carvalho, ‘Mustafá’ e Bruno Jacinto estão acusados, como autores morais, de 40 crimes de ameaça agravada, 19 de ofensa à integridade física qualificada, 38 de sequestro, um de detenção de arma proibida e crimes que são classificados como terrorismo, não quantificados. O líder da claque Juventude Leonina está também acusado de um crime de tráfico de droga.