Lagostas e traições políticas tramaram o ministro do Ambiente francês

François de Rugy Foto NURPHOTO/GETTY IMAGES

François de Rugy demitiu-se sob suspeita de cultivar o gosto por luxos e por estar completamente isolado

Alfa/Expresso. Por Daniel Ribeiro

François de Rugy, o até agora ministro de Estado e do Ambiente e número dois na hierarquia do Governo de Édouard Phillippe e de Emmanuel Macron, não aguentou a pressão provocada pelas revelações sobre o seu alegado exagerado gosto por uma vida de luxos, divulgadas pelo jornal online « Mediapart ».

Depois das notícias publicadas, há apenas alguns dias, procurou ajuda junto da maioria e constatou que estava isolado. Tentou organizar um abaixo assinado de apoio junto de ministros e deputados e nem isso conseguiu.

Em causa estão diversas acusações contra ele: gastos, com dinheiro público, em alegados jantares privados ou mundanos (pelo menos uma dezena) com a família e amigos, que incluíam “lagostas gigantes” e vinhos que podiam ir até ao valor de 500 euros por garrafa; e também despesas de restauro, porventura exageradas, num dos soberbos apartamentos de funções onde morou, entre outras notícias negativas que, todas somadas, punham em causa as suas ética e moralidade.

Boa parte dos factos revelados pelo conhecido jornal de investigação dizem respeito à época em que Rugy foi Presidente da Assembleia Nacional, de onde saiu, há dez meses, para o Ministério do Ambiente, substituindo o conhecido ecologista, Nicolas Hulot, que se demitiu por, disse na altura, não ter condições para levar a cabo “uma verdadeira política ecológica” e por “não ter suficientes apoios para combater os lóbis”.

François de Rugy, que é de origem aristocrática, não encontrou aliados para enfrentar o que considera ser “uma perseguição indigna e miserável” do « Mediapart ».

Uma das razões para o seu isolamento é que ele é visto por muitos como um político que, embora ainda jovem (45 anos), sempre se preocupou apenas com o seu percurso pessoal e por já apresentar um currículo manchado por algumas traições.

Os seus antigos amigos ecologistas do partido onde antigamente militou nem um dedo levantaram para o defender. Consideram que ele sempre foi um ambicioso “ecologista de direita” que os traiu.

Abandonou-os para concorrer às primárias do PS francês para as presidenciais, nas quais todos os concorrentes assinaram, como ele, um compromisso formal de apoiarem o vencedor dessa votação, fosse ele qual ele fosse.

Mas, mais uma vez, traiu, desta feita os socialistas: Benoît Hamon, da ala esquerda do PS, ganhou as primárias e De Rugy abandonou imediatamente o barco e ofereceu-se para integrar o movimento de Emmanuel Macron, que, curiosamente, já tinha traído também o Presidente socialista François Hollande, de quem era ministro.

Chegou à presidência do Parlamento e, a seguir a ministro, mas completamente só, sem tropas pessoais com as quais poderia contar nos maus momentos. Agora comprovou que estava completamente isolado.

A sua última aparição em público data do passado dia 14, em grande destaque na tribuna oficial das comemorações do Dia Nacional francês onde estava sentado imediatamente atrás do Presidente português Marcelo Rebelo de Sousa, instalado nas cadeiras na primeira fila, ao lado de Emmanuel Macron.

Na altura, o Governo já tinha anunciado ter lançado uma investigação interna sobre os fundamentos das acusações do « Mediapart ».

François de Rugy garante estar inocente e anunciou que processou o jornal por difamação. A notícia da demissão saiu meia hora antes de uma sessão na Assembleia Nacional onde deveria responder, segundo estava anunciado, a perguntas incómodas de diversos deputados sobre as revelações do « Mediapart ».

As notícias sobre os gastos de De Rugy cairam muito mal numa França onde a questão dos privilégios tem estado no centro das manifestações dos « coletes amarelos ».

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