Les Papiers de l’Anglais, uma minissérie da Arte realizada por Sérgio Graciano

O canal Arte (7) leva-nos ao coração da Namíbia com uma série portuguesa que explora as feridas da colonização.

Nas vastas paisagens do deserto da Namíbia, desenrola-se uma jornada que mistura memórias de infância com as cicatrizes da história. Os Papéis do Inglês, uma minissérie da Arte realizada por Sérgio Graciano, estreia esta quinta-feira, 12 de dezembro de 2024, adaptando a trilogia literária Os Filhos de Próspero de Ruy Duarte de Carvalho. Este drama poético e contemplativo mergulha fundo nas marcas deixadas pelo colonialismo português e nas tensões de um passado que permanece vivo.

Uma história entre poesia e memória

A narrativa acompanha Ruy Duarte de Carvalho, antropólogo e poeta, que em 1999 parte em busca dos misteriosos “papéis do Inglês” deixados pelo seu pai no deserto do Namibe. Esses documentos, possivelmente reveladores de um drama histórico e, quem sabe, de um tesouro literário, tornam-se o pretexto para uma viagem iniciática. Durante o percurso, Ruy conta com a companhia de Jonas Trindade, seu amigo e cozinheiro fiel.

Outros personagens enriquecem o enredo: Kaluter, um primo vindo de Portugal, e Paula e Camilla, duas figuras femininas que simbolizam o intelecto e a emancipação. Esta viagem geográfica e interior não só questiona os legados da colonização, mas também celebra a beleza das terras e povos africanos.

Uma poética contemplativa que divide opiniões

Como uma adaptação ambiciosa de uma obra literária poética, a minissérie produziu reações distintas entre a crítica. O jornal L’Humanité elogia a produção por oferecer “um novo olhar sobre a descolonização”, destacando diálogos bem elaborados e silências evocativos. Jonas, descrito como um personagem complexo e “amante dos clássicos gregos”, é visto como “a memória do país”, evoluindo de ajudante de cozinha ao serviço dos colonos para resistente e, finalmente, um homem livre.

Por outro lado, Télérama critica o enredo por ser “excessivamente sinuoso e elíptico”, afirmando que os “meandros digressivos” e as “multiplas temporalidades” podem confundir o espetador.

Uma experiência singular e sensorial

Le Nouvel Observateur destaca “uma adaptação bem-sucedida” que foge às convenções da televisão tradicional. “Cansado de polícias, assassinos em série e cliffhangers? Esta série é para si”, escreve a crítica, que aponta para uma narrativa orientada à “luz, beleza e lentidão”.

Este “conto filosófico” conduzido por Ruy Duarte de Carvalho, interpretado por João Pedro Vaz, combina uma busca íntima com uma reflexão sobre “o destino de um povo confrontado com a colonização portuguesa e sua violência”. Embora o ritmo contemplativo encante alguns, pode também “parecer exasperante para os telespectadores mais impacientes”, reconhece a revista.

Os Papéis do Inglês promete ser uma experiência visual e emocional única, convidando-nos a refletir sobre memórias coletivas e o impacto duradouro da história.

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