O Presidente francês, Emmanuel Macron, destacou hoje, no Cemitério Militar Português de Richebourg, « a amizade entre Portugal e França » numa intervenção na cerimónia evocativa do centenário da Batalha de La Lys.
Batalha de La Lys:
Emmanuel Macron discursou depois do Presidente português e recordou que no cemitério de Richebourg que “estão perto de 2.000 soldados portugueses” que lutaram numa “guerra absurda” que, aos “olhos europeus” de hoje se apresenta como uma “guerra dolorosamente fratricida”.
“Temos esta amizade entre Portugal e França, esta amizade profunda e sólida, cimentada por milhares de portugueses e franceses de origem portuguesa cuja energia e trabalho fortificam a nossa nação diariamente, cimentada por este sangue vertido, por estes jovens que aqui vieram defender a nossa liberdade e a nossa Europa”, acentuou.
O Presidente francês sublinhou que a cerimónia evoca a “memória de todos os soldados portugueses”, desde os que “combateram com as forças aliadas em França, mas também em Angola e Moçambique”, e acrescentou que a Batalha de La Lys, em 09 de abril de 1918 – na qual os portugueses foram destroçados pelas tropas alemãs – é simbolicamente “o equivalente para os portugueses da batalha de Verdun para os franceses”.
“Centenas de soldados portugueses morreram nesse dia, ao realizarem corajosamente uma batalha desigual que opôs 20.000 dos seus a mais de 50.000 alemães que aí agarravam a sua última oportunidade para ganhar a guerra antes da chegada dos esforços dos Estados Unidos. Foram, no total, 7.000 soldados portugueses que foram mortos, feridos e capturados num só dia negro, o mais mortífero da Grande Guerra para o vosso povo”, afirmou.
Emmanuel Macron apontou o cemitério militar português em França como “um símbolo de amizade e de solidariedade europeia e não de rancor nacionalista”, manifestando o desejo de que “nunca mais um europeu seja obrigado a tomar as armas e a matar o seu vizinho, que nunca mais os povos e as nações da Europa não tenham que se afrontar em guerras intestinais”.
O chefe de Estado francês declarou ainda que se deve “continuar a fazer da Europa o sonho de um continente que viveu um pesadelo”, que o “passado comum confirma que é preciso um futuro partilhado”, algo que é um dever para “a história, os mortos e a juventude”.
“Cem anos depois, o contraste entre a Europa de 1918, traumatizada por quatro anos de uma guerra até então incomparável e amputada da sua juventude, e a Europa de 2018, democrática, em paz há mais de 70 anos, deve exaltar as nossas convicções, as nossas ambições europeias. Não podemos habituar-nos a esta Europa em que vivemos como se não fosse o fruto do que construímos no tempo e o fruto do sangue vertido”, defendeu.
Macron advertiu que essas lições devem ser recordadas “num momento em que a Europa duvida de si mesma” e em que “os seus povos exprimem o medo do futuro colocando-se nas mãos de dirigentes que se alimentam da angústia”, considerando que “o nacionalismo tem uma triste memória do sangue vertido”.
“A Europa pode ser aperfeiçoada, nós sabemo-lo. A Europa deve ser objeto de reformas, trabalhamos nisso e trabalhamos em estreita colaboração com Portugal em muitos projetos da maior importância. Trabalhamos com o conjunto dos nossos aliados”, acrescentou, terminando o discurso com um “Viva Portugal, viva a França e viva a amizade entre Portugal e a França”.
Hoje, as comemorações do centenário da batalha de La Lys incluem também a inauguração da exposição “Racines” sobre descendentes de soldados portugueses, em Richebourg, uma cerimónia militar junto ao Monumento aos Mortos, em La Couture, o descerrar de placas em Arras e Lille e visitas a exposições nessas cidades.
Este domingo, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa estiveram em Paris para descerrar uma placa, na Avenue des Portugais, em “homenagem aos combatentes da Grande Guerra” e participaram numa cerimónia militar de homenagem ao Soldado Desconhecido no Arco do Triunfo, perante largas dezenas de portugueses. Alfa/Lusa.