Macron perdeu a maioria absoluta. Saiba porque é que isso não o preocupa. Ala esquerda do República em Marcha saiu para formar nova bancada parlamentar. Presidente francês passa a depender de apoio dos centristas para conseguir levar a cabo os seus projetos
O partido do Presidente francês deixou, esta terça-feira, de ter maioria absoluta na Assembleia Nacional (AN). Tudo porque 17 deputados da formação República em Marcha (LREM) formaram um novo grupo parlamentar. Trata-se de pessoas de tendência ecologista, que militavam na ala esquerda do LREM. Este passa a ficar a um voto da maioria absoluta.
Com o nome Ecologia, Democracia e Solidariedade, é a nona bancada parlamentar na AN. Nela pontuam figuras como Matthieu Orphelin, próximo do ex-ministro da Ecologia Nicolas Hulot, e personalidades muito “mediáticas”, como o matemático Cédric Villani.
Tinham estado em destaque — já na altura com divergências com Emmanuel Macron — nas recentes eleições autárquicas de 15 de março, cuja segunda volta não chegou a disputar-se, devido à crise do novo coronavírus. Os dissidentes dizem ser “independentes” e garantem não ser “da maioria nem da oposição”.
A perda da maioria absoluta não inquieta Macron por aí além. A dissidência ameaçou ser de muito maior dimensão, nas últimas semanas, mas o grupo rebelde perdeu duas dezenas de membros durante as negociações (e pressões de bastidores) para formar o novo grupo parlamentar.
A AJUDA CENTRISTA
Poucos deram, pois, importância ao acontecimento, mesmo entre a oposição parlamentar, formada por republicanos (centro-direita), socialistas, esquerdistas (França Insubmissa) e outros. É que os 288 deputados que se mantêm no LREM (eram 313 após as legislativas de 2017, mas tem havido mais saídas) contam com o apoio dos “amigos” centristas do Movimento Democrático (MoDem, do ex-ministro e antigo candidato presidencial François Bayrou, com 46 deputados). Será possível, portanto, o Governo de Édouard Phillippe fazer aprovar as suas propostas na AN.
“É um caso sem importância, por agora, tanto para o Parlamento como para a segunda volta das eleições municipais, que poderão acontecer a 28 de junho ou, se a crise sanitária não o permitir, no mês de setembro”, diz ao Expresso o vereador socialista de Paris Hermano Sanches Ruivo, próximo da presidente da Câmara, Anne Hidalgo.
SOCIALISTAS SEGURAM PARIS
Na AN, o partido de Macron não corre o risco de ver os seus projetos chumbados. Nas autárquicas, Hidalgo corre muito poucos riscos na recandidatura ao cargo que ocupa desde 2015. Não se vislumbram na capital nem noutras cidades alianças dos novos “LREM de esquerda” com Rachida Dati, candidata dos Republicanos, cuja imagem está muito colada à direita. Antiga colaboradora do Presidente Nicolas Sarkozy, ficou a 7% de Hidalgo na primeira volta, em março. A « maire » conta, na segunda volta, com uma reserva de votos de esquerda e de ecologistas muito superior à de Dati.
O novo grupo parlamentar assegura que vai fazer política de forma “diferente”, designadamente face à pandemia de covid-19. Em declarações à imprensa francesa, esta manhã, um dos dirigentes da LREM encolheu os ombros perante a notícia da dissidência e disse, sorrindo, que “a maioria absoluta não está em perigo”.