Liga das Nações: Portugal qualificou-se ontem para a final da primeira edição da Liga das Nações, ao vencer a Suíça por 3-1, em encontro das meias-finais, no Estádio do Dragão, no Porto.
Ronaldo marcou os 3 golos da Seleção das ‘Quinas’.
Em França, o talento de Ronaldo foi elogiado pelo jornal L’Équipe com um grande título: « Diabólico » – « Le joueur : Cristiano Ronaldo diabolique ».
Em Portugal, hoje, quinta-feira, é só elogios a CR7. Um exemplo, a capa de A Bola:
Outro exemplo, um artigo do Expresso:
Compatibilizem-se com o talento do melhor jogador da história de Portugal. Afinal é fácil compatibilizar talento na seleção portuguesa: é só colocar Cristiano Ronaldo em campo. O capitão marcou os três golos com que Portugal, num 4-4-2 losango, venceu a Suíça, na meia-final da Liga das Nações (3-1), no Dragão
« Olha lá, reparaste que ninguém fez perguntas sobre ele? Foi só Félix para aqui, Félix para ali… »
Depois da conferência de imprensa de Fernando Santos e de Bernardo Silva, na antevisão do Portugal-Suíça, um colega confirmava-me a estranheza que também já tinha sentido na cave do Dragão. Pela primeira vez em muito tempo, não se falou dele, o homem de quem se falava, dia sim, dia não, em quase todas as mais recentes competições em que Portugal participou – ou não tivesse ele participado nas últimas 10 provas internacionais da seleção, entre Europeus, Mundiais, Confederações e, finalmente, Liga das Nações.
Pelo contrário, tal como aconteceu na conferência de imprensa do central holandês Virgil Van Dijk, falou-se, e muito, de um rapaz chamado João Félix, que dizem que vale €120 milhões, que dizem que tem meia Europa atrás dele, que dizem que vai fazer e acontecer.
Nada disto é, obviamente, culpa do mesmo miúdo de 19 anos que ainda nem se tinha estreado pela seleção e que todos quisemos crer que iria fazer o mesmo que fez, em 2004, também « em casa », um outro rapaz de 19 anos, chamado Cristiano Ronaldo.
Mas quando, aos 55 minutos de jogo, se ouviu o Dragão a gritar com convicção pela primeira vez, só se ouviu o nome do talento mais incontornável e mais indiscutível de Portugal:
Cris-ti-aaaaa-no Ronaldo, Cris-ti-aaaaa-no Ronaldo, Cris-ti-aaaaa-no Ronaldo!
Naquele momento, o capitão português – que já tinha marcado o seu 86º golo pela seleção na 1ª parte, de livre direto – tinha a bola na mão e preparava-se para marcar o penálti que Bernardo Silva tinha sofrido e que Felix Brych tinha apitado.
Só que, entretanto, o VAR – sim, a Liga das Nações tem videoárbitro – entrou em ação e alertou o árbitro alemão para uma jogada anterior na área portuguesa, em que Nélson Semedo parece tropeçar em Zuber.
O que estava prestes a tornar-se mais uma bela noite do melhor marcador português, afinal, parecia que ia dar para o torto – até porque Portugal não estava particularmente inspirado.
Voltando ao princípio. Tal como tinha dito na antevisão do jogo, Fernando Santos conseguiu, de facto, compatibilizar os maiores talentos portugueses no onze, ainda que não exatamente da forma esperada (se bem que Rui Malheiro já tinha dito AQUI à Tribuna Expresso que esta era a melhor estrutura para Portugal).
Em vez do 4-4-2 clássico, Portugal dispôs-se em losango, com Rúben Neves a ‘seis’, Bruno Fernandes como interior direito, William como interior esquerdo, Bernardo a ‘dez’ e Ronaldo e Félix a avançados. Mais atrás, a surpresa foi Nélson Semedo – Cancelo ficou no banco -, com os restantes elementos do setor defensivo a serem os esperados: Patrício, Guerreiro, Rúben Dias e Pepe.
O que, em teoria, parecia ser uma ótima ideia, na prática, afinal, não correu tão bem como esperado. É que Portugal raramente quis ter bola para controlar o jogo, com soluções adequadas para dar sequência aos ataques – os centrais recorreram frequentemente aos lançamentos em profundidade e os portugueses só criavam algum perigo em transições.
Foi precisamente assim que Portugal assustou Yann Sommer pela primeira vez, com Bernardo Silva a recuperar uma bola e a lançar Ronaldo, que rematou ao lado.
Do outro lado do campo, a Suíça construía a partir de trás com três jogadores – Schar, Akanji e Rodriguez -, com Zuber a lançar-se em profundidade pela esquerda e Mbabu pela direita, num 3-5-2 ofensivo – e foi pela direita que os suíços mais criaram perigo na área portuguesa, até porque William teve dificuldades em dar conta do recado por aquele lado.
Uma, duas, três vezes: Seferovic apareceu na área a finalizar as jogadas suíças, mas, ao contrário do que costuma fazer na Liga portuguesa, nunca acertou com a baliza de Rui Patrício – o melhor que conseguiu foi acertar na trave.
Do mesmo modo, João Félix, quando isolado em frente a Sommer, após um grande passe de Ronaldo, falhou o alvo.
O que nos deixou, então, com o goleador do costume. Aos 25 minutos, depois de uma falta sofrida pelo próprio, Ronaldo fez o 1-0 de livre direto, num remate que deixou Sommer pregado ao chão, por ter sido endereçado para o lado oposto ao da barreira.
Na 2ª parte, depois de uma entrada mais vigorosa da Suíça e do tal episódio com o VAR, Rodríguez fez o 1-1, de penálti, e o cenário ficou negro para Portugal.
Já sem Pepe (lesionado) e João Félix (apagado) em campo, por troca com Fonte e Guedes, a seleção, mesmo sem criar oportunidades de golo dignas desse nome – o jogo foi pouco abundante nesse aspeto -, acabou a festejar, cortesia do tal talento superior.
Primeiro, do passe talentoso de Rúben Neves, depois, da receção talentosa de Bernardo Silva e, por fim, do remate muitíssimo talentoso – de primeira – de Ronaldo, já dentro da área, antecipando-se a Akanji.
O 2-1, aos 88 minutos, parecia já fechar o jogo, tal era o abalo emocional nos suíços, que já estavam encostados à área, mas o capitão português ainda fez questão de confirmar que, afinal, a noite era mesmo dele.
Recebeu a bola, driblou e rematou para o 3-1 final – e para o seu 88º golo na seleção, em 157 jogos, aos 34 anos. E ouviu, mais uma vez, a homenagem merecida:
Cris-ti-aaaaa-no Ronaldo, Cris-ti-aaaaa-no Ronaldo, Cris-ti-aaaaa-no Ronaldo!