Manuel Alegre: « Não aceito que os mais velhos sejam confinados até novembro »
« Não posso ver filhos e netos há várias semanas. »
« Nunca esperei viver isto. Fiz a guerra, estive preso e dez anos no exílio, foi muito duro, mas era a minha luta. Tinha 20 e tal anos e muita vida à minha frente. »
Este é o desabafo de Manuel Alegre perante a hipótese de que os mais velhos devem manter-se em quarentena até novembro: « Há uma grande preocupação em proteger os mais idosos, mas não aceito que essa proteção signifique prender-me em casa. Já não tenho tempo para isso, nem eu nem muitos outros. Interessa-me a vida enquanto puder vivê-la como ela é. Quero ver crescer os meus netos e sabemos tomar as precauções, até autoconfinar, mas o confinamento obrigatório além de certos limites equivale a uma prisão, é inconstitucional e um atentado à liberdade. »
Este não é o único desabafo de Manuel Alegre: « Tenho admiração, amizade e respeito por Ramalho Eanes, com quem vivi alguns dos momentos duros e de perigo no pós-25 de Abril, mas não concordo com a frase que ele disse e que foi muito louvada por certa gente pseudomoralista: a de que cedia o ventilador a alguém mais novo em perigo. Porque nesta situação em que estamos a viver, as pessoas são iguais e todos devem ser tratados por igual. É esse o exemplo que os médicos estão a dar ao terem conseguido salvar um doente com 100 anos. Não depende da idade, mas da fibra, das condições físicas e da capacidade de resistência de cada um. Não vamos iniciar um caminho de eutanásia noutro sentido ao retirar o ventilador aos mais velhos. »