A morte, por Covid-19, no passado dia 11, do tenente-coronel, Marcelino da Mata, guineense diversas vezes condecorado por Portugal por atos de bravura na guerra da Guiné contra o PAIGC, trouxe de novo para a atualidade não apenas o tema ainda muito delicado em Portugal da guerra colonial como a controversa « operação MAR VERDE », na qual ele participou e que foi um ataque militar à Guiné-Conakry em 1970, cujo regime da época apoiava o independentistas da Guiné-Bissau.
Por Daniel Ribeiro
(Marcelino da Mata foi o militar português mais condecorado da História)
Entretanto, dois novos livros publicados em França e Portugal – GUINÉE, 22 NOVEMBRE 1970. OPÉRATION MAR VERDE (NOUVELLE ÉDITION) de Bilguissa Diallo, publicado com novas informações pelas edições L’Harmattan en janeiro de 2021 e ATAQUE A CONAKRY, HISTÓRIA DE UM GOLPE FALHADO de José Matos et Mario Matos e Lemos anunciado pelas edições Fronteira do Caos, do Porto, para muito brevemente – levantam novas pistas sobre a muito controversa « operação MAR VERDE ».
Lançado por Portugal a 22 de novembro de 1970, o ataque, com algumas centenas de homens, à Guiné-Conakry, visava derrubar o regime de Sékou Touré, que abrigava e dava forte apoio aos guerrilheiros independentistas e ao PAIGC, na Guiné-Bissau.
Portugal enfrentava na altura grandes dificuldades para combater a guerrilha do PAIGC e a operação visava decapitar a organização de Amilcar Cabral e derrubar o regime de Sékou Touré, que apoiava os independentistas na Guiné-Bissau.
Esta operação veio de novo para grande destaque na atualidade portuguesa devido à morte, com covid, a 11 de fevereiro, de Marcelino da Mata, um militar e oficial (tenente-coronel), português que hoje gera muita controvérsia, mas que foi considerado um herói por Portugal e diversas vezes condecorado – recebeu a Torre e Espada, três Cruzes de Guerra de 1ª classe, uma de 2ª e outra de 3ª. Marcelino da Mata era um negro, nascido na Guiné-Bissau, que lutou sob a bandeira portuguesa na guerra colonial. O batalhão de Comandos da Guiné-Bissau, de Marcelino da Mata, tinha à volta de 500 africanos, que combatiam com os portugueses contra o PAIGC.
Marcelino da Mata participou em centenas de missões de combate, entre elas a famosa operação ‘Mar Verde’, em 1970, na qual foram libertados 26 prisioneiros portugueses e foi ele que terá comandado o assalto à prisão de Conakry onde se encontravam detidos os militares portugueses, alguns há vários anos.
O guineense e combatente pelo lado português, é herói para uns e vilão para outros
Por exemplo, o presidente da Associação 25 de Abril, Vasco Lourenço, acusa Marcelino da Mata de ter cometido «crimes de guerra» na Guiné, com «especial relevo» na ‘Operação Mar Verde’.
O mesmo diz o historiador Fernando Rosas, que considera Marcelino da Mata um traidor à causa nacional do seu país e que, segundo ele, «foi protegido quer pela ditadura, quer pelos comandos militares».
Também Mamadou Ba, militante antirracista (dirigente de SOS-Racismo) e muito conhecido em Portugal, critica o antigo tenente-coronel agora falecido, atacando o CDS, partido que o queria homenagear com honras nacionais depois de ele ter falecido. «O CDS quer que se decrete luto-nacional pelo falecimento do sanguinário Marcelino da Mata que confessara o seguinte: ‘Nunca entreguei um turra à PIDE, cortava-lhes os tomates, enfiava-lhos na boca, e ficava ali a vê-los morrer’. É a assunção de uma desavergonhada filiação ideológica ao horror colonial», escreveu o ativista de SOS Racismo nas redes sociais.
«Queixam-se do uso displicente do qualificativo ‘fascista’ e refutam a filiação ideológica ao fascismo. Mas investem na homenagem a figuras sinistras como Cónego Melo, Kaúlza de Arriaga e Marcelino da Mata. Marcelino da Mata é um criminoso de guerra que não merece respeito nenhum», acrescentou Mamadou Ba.
O assunto deu forte polémica e, segundo escreve o jornal « Sol », « em reação às palavras de Mamadou Ba, o CDS veio exigir a sua «saída imediata» do Grupo de Trabalho para a Prevenção e o Combate ao Racismo e à Discriminação, criado pelo Governo em janeiro, por «insultar» o tenente-coronel Marcelino da Mata ».
O Chega, de André Ventura, também atacou Mamadou Ba, anunciando mesmo que apresentará queixa contra o ativista junto da Procuradoria-Geral da República.
Em Portugal circula aliás neste momento uma petição pública virtual, já com algumas milhares de assinaturas, que exige a deportação do ativista antirracismo Mamadou Ba devido aos seus comentários sobre o falecido militar condecorado por Portugal, Marcelino da Mata.
Paulo Pisco votou contra voto de pesar aprovado na AR apesar do apoio da maioria dos deputados do PS
Segundo relata o jornal « Sol », o oficial foi homenageado há dias na Assembleia Nacional. «Marcelino da Mata destacou-se pela sua coragem e bravura individual, sem se ter ferido alguma vez com gravidade. Ao longo do seu percurso, obteve um elevado número de louvores e diversas condecorações», referia o texto do voto de pesar, aprovado na Assembleia da República, na quinta-feira, com votos a favor da maioria do PS e da totalidade dos deputados do PSD, do CDS, do Chega e do Iniciativa Liberal. Contra votaram o BE, o PCP, os Verdes, o PAN, a deputada não-inscrita Joacine Katar Moreira e três socialistas: Ascenso Simões, Paulo Pisco e Eduardo Barroco de Melo. Já a deputada não-inscrita Cristina Rodrigues e os deputados do PS Porfírio Silva, Miguel Matos, Maria Begonha, Cláudia Santos, Joana Sá Pereira, Tiago Barbosa Ribeiro e Bruno Aragão abstiveram-se ».
No que respeita à operação Mar Verde, a 22 de novembro de 1970, foi publicado agora mais um livro (em França) onde se aludem a eventuais apoios a Portugal (não provados) da França e do Senegal à preparação do ataque. Um outro livro « ATAQUE A CONAKRY, HISTÓRIA DE UM GOLPE FALHADO » é anunciado pela editora Fronteira do Caos, em Portugal, para muito brevemente.