Marcelo pede desculpa se ofendeu « uma que seja das vítimas » de abusos na Igreja Católica

O Presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa, discursa na sessão de abertura da 5.ª Conferência de Lisboa "Rumo a uma Nova Ordem Mundial?", na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, 13 de outubro de 2022. JOãO RELVAS/LUSA

O Presidente da República dirigiu-se hoje às vítimas de abusos sexuais, em particular por parte de responsáveis da Igreja Católica Portuguesa, pedindo desculpa se ofendeu « uma que seja » dessas pessoas com as suas declarações de terça-feira.

À saída de uma iniciativa na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa fez uma curta declaração aos jornalistas, com uma « primeira palavra » dirigida « às vítimas dos abusos sexuais, todos eles, mas nomeadamente em particular agora aqueles que vêm da parte de responsáveis da Igreja Católica, sacerdotes e outros responsáveis ».

« E essa palavra é muito simples: é dizer-lhes que a minha intenção não foi ofender quando disse o que disse, mas se porventura entenderam, uma que seja das vítimas que está ofendida, eu peço desculpa por isso, porque não era esse o meu objetivo », afirmou o chefe de Estado.

« O meu objetivo era exatamente o contrário: o temer que muitas vítimas, por medo, por limitação, não tivessem falado e o número, que deveria ser ainda mais alto, tivesse ficado por onde ficou », acrescentou.

Em segundo lugar, Marcelo Rebelo de Sousa agradeceu aos portugueses que lhe enviaram « centenas de mensagens » nos últimos dias. « Diziam no fundo aquilo que é óbvio: que me conhecem há não sei quantos anos, que conhecem os sete anos do meu mandato e que, portanto, sabem que as causas sociais, dos pobres, dos explorados, dos dependentes, dos abusados são as minhas causas sociais », referiu.

Em terceiro lugar, o chefe de Estado deixou uma palavra « em especial para a comunicação social e para aqueles que no mundo político formularam os seus juízos » sobre as suas palavras de terça-feira, defendendo que « faz parte da democracia o espírito crítico, a abertura, o não haver as censuras ».

Por último, deixou a garantia « aos portugueses e a todos quantos servem os portugueses e devem servir na comunicação social, nos movimentos sociais, nos partidos políticos » de que prosseguirá em funções até ao fim do mandato exatamente como tem sido.

« O Presidente cá está, vai continuar o seu caminho, caminho que tem ainda pela frente três anos e meio, exatamente como sempre foi, sem mudar uma vírgula nos valores, nos princípios, na determinação, sempre, sempre ao serviço dos portugueses e de Portugal », declarou.

Na terça-feira, questionado sobre a recolha de 424 testemunhos de abusos sexuais contra crianças na Igreja Católica em Portugal, o Presidente da República disse não estar surpreendido, salientou que « não há limite de tempo para estas queixas » que têm estado a ser recolhidas, algumas relativas « há 60 ou há 70 ou há 80 anos ».

« Significa que estamos perante um universo de pessoas que se relacionou com a Igreja Católica de milhões ou muitas centenas de milhares », prosseguiu Marcelo Rebelo de Sousa, concluindo: « Haver 400 casos não me parece que seja particularmente elevado, porque noutros países e com horizontes mais pequenos houve milhares de casos ».

Face às críticas que as suas declarações suscitaram, o chefe de Estado divulgou uma nota a explicar que « este número não parece particularmente elevado face à provável triste realidade, quer em Portugal, quer pelo mundo », admitindo que « terá havido também números muito superiores em Portugal ».

Depois, o Presidente da República falou para a RTP e para a SIC a reforçar a mesma mensagem, reiterando que 424 queixas lhe parecia um número « curto » face ao que estima ser a realidade, declarando que aceitava democraticamente as críticas, mas não as compreendia.

Os 424 testemunhos foram recolhidos pela designada Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, uma estrutura constituída por decisão da Conferência Episcopal Portuguesa e coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht.

 

 

Com Agência Lusa.

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