Marcha contra o racismo encheu ruas de Lisboa porque em Portugal « também há intolerância »

Marcha contra o racismo encheu ruas de Lisboa porque em Portugal « também há intolerância »

Marcha contra o racismo encheu ruas de Lisboa porque em Portugal também há intolerância

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Lusa/AFP
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Mais de cinco mil pessoas participaram no sábado à tarde numa manifestação em Lisboa contra o racismo denominada “Vidas Negras Importam”, a evocar os protestos que ocorreram nos Estados Unidos e porque em Portugal “também há intolerância”.

De forma pacífica, ao longo de mais de duas horas e meia, os manifestantes percorreram os cinco quilómetros que separam a zona da Alameda, junto à Fonte Luminosa, até à Praça do Comércio, na Baixa.

Com bombos a marcar o ritmo, o ‘grito’ de protesto mais ouvido foi “Black Lives Matter” (Vidas Negras Importam), mas os cartazes que muitos seguravam tinham centenas de outras mensagens como “não quero ter medo da PSP”, “a quem ligamos quando a polícia mata”, “stop killing us” (parem de nos matar), “isto não é um filme americano” ou “a roupa para lavar é a única coisa que se deve separar por cores”.

“Estamos saturados”, disse à Lusa Catarina Gomes, de 34 anos, ainda antes do início da manifestação, explicando que os negros “continuam a sentir racismo em várias situações do dia a dia”, mesmo em Portugal.

“Cada vez há mais intolerância, as pessoas estão frustradas, muitas vezes por razões económicas, e começam a ser intolerantes”, acrescentou.

Ao longo da Avenida Almirante Reis, que liga o Areeiro ao Martim Moniz, das varandas muitas pessoas também acenavam e batiam palmas à passagem da manifestação.

À frente, vários agentes da PSP ‘abriam’ caminho aos manifestantes e, apesar de um dos motes da concentração ser a violência policial, em momento algum houve gestos menos próprios contra a polícia ou palavras de desagrado.

Um dos agentes que acompanhava a manifestação disse à Lusa que, no total, terão estado presentes entre cinco a seis mil pessoas.

Para Valentina, de 17 anos, esta foi a sua ‘estreia’ em manifestações contra o racismo e hoje decidiu sair à rua porque há pessoas que não nasceram “privilegiadas” como ela.

“Em Portugal claramente há racismo”, salientou, defendendo que para si “todos merecem os mesmos direitos”.

“Merecem estudar igual a nós, são julgados pela cor e não devia ser assim”, notou.

À passagem pela sede do BE, quase a chegar ao Martim Moniz, os manifestantes saudaram a coordenadora bloquista, Catarina Martins, com palmas e gritos de “o povo unido jamais será vencido”.

Da varanda do edifício, Catarina Martins acenou e bateu palmas.

Entre outros dirigentes do BE, a deputada Beatriz Gomes Dias esteve também na manifestação porque a luta contra o racismo não é uma questão partidária, “mas uma questão de cidadania, de direitos das pessoas”.

Encostado a um sinal de trânsito, já na Praça do Comércio, Carlos, de 38 anos, esperava pela chegada dos manifestantes, com um pé em cima de um ‘skate’ já com bastantes marcas de uso.

À Lusa explicou que decidiu participar “em solidariedade e apoio com todas as vítimas de preconceito e racismo”, situações que, por vezes, também acontecem em Portugal.

“Mas, alguma coisa está a mudar”, considerou, apontando para o número de pessoas que decidiram hoje ‘gritar’ contra o racismo” e que “ninguém imaginava que pudesse ser tão grande”.

Contudo, em tempos de pandemia de covid-19 também a saúde importa e, por isso, Carlos manteve-se sempre um bocadinho “à margem” do aglomerado de manifestantes.

Pois, embora quase todos estivessem de máscara, o distanciamento social imposto pela prevenção da covid-19 esteve bastante longe de ser cumprido.

Várias cidades portuguesas juntaram-se hoje à campanha de solidariedade mundial contra o racismo, associando-se à luta pela dignidade humana na sequência da morte, em 25 de maio, do afro-americano George Floyd, sob custódia da polícia dos Estados Unidos.

As iniciativas estavam agendadas para Lisboa, Porto, Braga, Coimbra e Viseu no quadro da ação mundial “Black Lives Mater”.

Os organizadores visam protestar contra a morte de Floyd em Minneapolis, no estado norte-americano do Minnesota (Estados Unidos), depois de ter sido pressionado no pescoço pelo joelho de um polícia, com a ajuda de outros agentes ajoelhados nas suas costas.

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