Mário Centeno pode suceder a Lagarde no FMI – Expresso

Mário Centeno é mesmo possível no FMI. Em duas semanas saberemos

Foto MIGUEL FIGUEIREDO LOPES

Anúncio da saída de Lagarde para o BCE abriu vaga de ‘candidaturas’ europeias. Centeno está na ‘shortlist’ e gostava. Há vários fatores que o podem deixar bem colocado. E António Costa, quer? Esta quinta há um momento decisivo, na reunião do G7 de ministros das Finanças. Centeno estará lá.

Alfa/Expreso. Por David Dinis

A notícia apareceu primeiro no site politico.eu, especializado em assuntos europeus, e depois no Wall Street Journal, um dos dois jornais mais prestigiados do mundo financeiro: Mário Centeno, o ministro português das Finanças e atual presidente do Eurogrupo, estará numa shortlist para a presidência do FMI. Contexto? Christine Lagarde, a atual presidente, anunciou ontem formalmente a sua demissão, para ir para o BCE substituir Mario Draghi. Data a ter em conta: 12 de setembro, o dia em que a francesa sai do cargo.

Segundo confirmou o Expresso, Centeno é mesmo um dos quatro nomes que está e cima da mesa nestes dias em que arrancou uma verdadeira corrida diplomática a um dos cargos institucionais mais importantes do mundo. Não há ainda candidaturas formais, mas as movimentações estão bem descritas na notícia do WSJ: o holandês Jeroen Dijsselbloem, o ex-vice presidente da Comissão Olli Rehn e Nadia Calviño, atual ministra da Economia espanhola.

Na notícia do Politico, Centeno era posto na lista, mas apontava-se um óbice ao português: a par de Olli Rehn e Nadia Calviño, não seria « suficientemente sénior » para chegar ao cargo. Mas nos bastidores diplomáticos, a história que começa a correr é um pouco diferente. E com alguns factores que podem, na verdade, colocar Centeno pelo menos em igualdade de circunstâncias para chegar ao lugar.

O primeiro fator a ter em conta é que o cargo, à partida, deve continuar a ser europeu. Apesar da imprevisibilidade do atual presidente americano, desde os acordos de Bretton Woods (que instituíram a ordem mundial multilateral, tal como a conhecemos) que os dois cargos económicos do mundo ficaram divididos assim: o Banco Mundial presidido por um americano; o segundo (FMI) por um europeu. O ‘acordo’ tem sido, até aqui, respeitado. A China e as outras economias emergentes não se têm organizado para disputar nenhum dos postos. E no ano passado Trump nomeou para novo presidente do Banco Mundial um ex-secretário de Estado dos EUA, de acordo com as normas instituídas.

Se a substituição de Lagarde se fizer na Europa, a ligação direta entre a saída de Lagarde e a escolha dos « top jobs » europeus pode dar mesmo uma posição privilegiada ao português, explica uma fonte europeia ouvida pelo Expresso. Porque na distribuição dos cargos na UE, foram os socialistas os mais prejudicados, dando capital de queixa que pode ser aproveitado por António Costa. Recorde que esta semana a alemã Ursula Von der Leyen (PPE) foi já confirmada para a liderança da Comissão Europeia; o liberal belga Charles Michel irá comandar o Conselho Europeu. E para os socialistas ficou apenas o cargo de Alto Representante da Política Externa (para o ex-MNE espanhol Josep Borrell) e metade do tempo da presidência do Parlamento Europeu (a meias com o PPE). A isto, a mesma fonte chama « capital de queixa ».

Segundo fator a favor de Mário Centeno é a aparente ausência de anti-corpos na UE. Pelo menos em comparação com dois dos seus potenciais competidores: se a Holanda já corre por Jeroen Dijsselbloem, o polémico ex-presidente do Eurogrupo, e sendo verdade que este colhe apoios na Alemanha e noutros países mais a Norte da Europa, a verdade é que a sua gestão da crise do euro deixou lastro de antipatia junto dos países mais a Sul, de Portugal a Itália, passando pela central França agora comandada por Macron. E se, neste particular, Centeno fica em paralelo com o teoricamente favorito Dijsselbloem em currículo (com a vantagem de ser quadro do banco central português), é também um facto que a presidência do Eurogrupo lhe dar vantagem, também sobre a ministra espanhola da economia. Pelo menos ao nível de currículo.

Aqui entra um terceiro argumento, também contabilizado ao Expresso por uma fonte europeia: se é verdade que Pedro Sánchez já pôs a máquina diplomática espanhola a apostar na candidatura de Nadia Calviño, também é um facto que na distribuição recente de cargos na estrutura da UE Espanha já conseguiu um lugar de topo.

Um último factor a ter em conta é quem está a liderar o processo da escolha da sucessão de Lagarde na Europa: o presidente francês Emanuel Macron, dentro do quadro do G7. Com quem, de resto, António Costa tem bom relacionamento.

É aqui que entra uma da dúvidas centrais deste processo: quererá o primeiro-ministro português candidatar Centeno ao lugar, tendo em conta que tem legislativas mesmo à porta – e que Centeno se tornou central na sua mensagem política para as eleições? O Expresso tentou obter uma resposta do gabinete do primeiro-ministro, assim como do gabinete do ministro das Finanças, mas não conseguiu obter ainda respostas.

A verdade é que a presidência do FMI daria não só uma saída pela porta grande a Centeno, como garantiria uma vitória em toda a linha à diplomacia portuguesa. Com António Guterres à frente da ONU e António Vitorino na presidência da Agência internacional das migrações, depois da presidência da Comissão Europeia de Durão Barroso e da presidência da assembleia-geral da ONU de Freitas do Amaral, não sobraria posto em que um português não tivesse já chegado. Claro que todos estes postos, sobretudo o atual de Guterres, também podem funcionar contra Portugal, acrescenta uma fonte política portuguesa, também ouvida pelo Expresso, para quem as « chances » de Centeno são, neste momento, « não muito grandes ».

Seja como for, o sim ou sopas terá de ser rápido: segundo o WSJ, os líderes do G7 já decidiram fazer a sua escolha até ao final do mês, para garantir que a sucessão de Lagarde acontece a tempo e sem sobressaltos. Mas esta quinta-feira há um momento chave: como o processo vai estar na mesa da reunião dos ministros das Finanças do G7, que acontece neste dia, e como Centeno é o representante da Europa nessa reunião (por inerência do Eurogrupo), o português irá ter a oportunidade de medir as suas hipóteses. As negociações, isso é certo, correm nos bastigores. No máximo em duas semanas, terá que haver uma decisão – precisamente o limite temporal para António Costa saber se conta com ele para as listas de deputados ou não.

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