O lote de medidas anunciadas pelo presidente e pelo primeiro-ministro franceses em resposta às exigências do movimento dos “coletes amarelos” implica um défice de 3,5% do PIB no próximo ano, segundo as contas do economista Eric Dor, diretor de estudos económicos na Escola de Gestão de Lille, em França.
Alfa/Expresso. Por Jorge Nascimento Rodrigues
“As novas medidas anunciadas pelo presidente Macron vão levar o défice público de França para os 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2019. Com a incerteza de como estas medidas vão ser compensadas, o défice vai certamente ultrapassar o critério do Pacto de Estabilidade”, refere Eric Dor, diretor de estudos económicos na Escola de Gestão de Lille, em França. O economista estima que o lote de medidas anunciadas na segunda-feira à noite pelo presidente francês, em resposta às exigências do movimento dos “coletes amarelos”, vai custar entre 10 e 12 mil milhões de euros.
Macron anunciou um aumento do salário mínimo mensal em 100 euros a partir de 1 de janeiro – que está, em valor bruto, em 1498,47 euros -, a isenção de impostos e de contribuições para as horas extraordinárias e uma redução da contribuição (CSG) para as reformas abaixo de €2000 euros. O primeiro-ministro Edouard Philippe já tinha anunciado anteriormente que o governo retirou do orçamento para 2019 o aumento dos impostos sobre os combustíveis e que tinha suspendido a subida das taxas da eletricidade e do gás. O governo tinha anunciado, inicialmente, que apenas adiava por seis meses a aplicação da subida de impostos sobre os combustíveis, mas, depois, recuou totalmente na medida prevista para 2019 que originou o movimento dos “coletes amarelos”.
As contas de Dor abrangem todo o pacote. “O governo diz que pretende evitar uma degradação do défice orçamental e compensar as medidas anunciadas com poupanças no gasto público, que serão detalhadas em breve. Mas é bastante irrealista”, sublinha o economista francês. “Mesmo o objetivo de um défice de 2,8% do PIB inscrito no orçamento para 2019 é incerto, pois se baseia numa taxa de crescimento da economia francesa de 1,7% no próximo ano. O que é realista é estimar um crescimento de 1,4% em 2019, o que, desde logo, sobe o défice para 2,95%”, conclui o professor de Lille.
Recorde-se que Bruxelas considerou que o orçamento para 2019 apresentado por França em outubro – tal como nos casos da Bélgica, Eslovénia, Espanha e Portugal – corre o risco de incumprimento das regras europeias. No caso do orçamento apresentado por Itália, a Comissão Europeia considerou tratar-se de « um caso particularmente grave de incumprimento« .
Nas primeira reações ouvidas da parte de participantes do movimento dos “coletes amarelos”, as opiniões dividiam-se entre admitir que os anúncios no discurso televisivo por parte do presidente eram « um começo de compreensão » e achar que se tratavam de « meias medidas ».