A conclusão é do estudo do WWF- Fundo Mundial para a Natureza e marca o dia Mundial dos Oceanos, assinalado a 8 de Junho revelando que 95% dos resíduos que flutuam no Mediterrâneo são de plástico, o que coloca este mar em risco, de se transformar numa armadilha plástica, com níveis recorde de poluição que ameaçam tanto espécies marinhas como a saúde humana.
Portugal não escapa ileso a este impacto devido à proximidade geográfica com o Mediterrâneo, afirma este relatório do WWF – – Fundo Mundial para a Natureza intitulado « Sair da Armadilha Plástica: Salvar o Mediterrâneo da poluição. »
O documento alerta para os efeitos dramáticos que o uso excessivo de plástico, a má gestão dos resíduos e o turismo em massa estão a ter sobre uma das regiões mais visitadas no mundo, como Portugal, que dada a proximidade geográfica e o aumento exponencial do turismo, partilha destes problemas.
Apesar da real dimensão do perigo do plástico no oceano não ser conhecida em Portugal, uma vez que não existem estudos específicos recentes sobre a temática, há artigos científicos que colocam o nossos país com dados preocupantes ao longo da cadeia alimentar marinha, nomeadamente em espécies que servem de alimento a peixes e mamíferos, como o zooplâncton.
De acordo com a ANP – Associação Natureza Portugal, representante do WWF na península ibérica, essas reflexões científicas destacam as zonas de Lisboa e Costa Vicentina pela sua proximidade com os Estuários do Tejo e Sado, apresentando elevadas densidades de microplásticos.
De notar também que 20% dos peixes de consumo quotidiano revelam microplásticos nos seus estômagos, e que 80% das Tartarugas-Marinhas-Comuns (Caretta caretta), cujos juvenis gostam de se alimentar na zona dos Açores, comem lixo, na sua maioria plástico.
Hoje, o plástico representa 95% dos resíduos que flutuam no Mediterrâneo e que dão à costa nas praias. A maior parte desse plástico é proveniente da Turquia e Espanha, seguida pela Itália, Egito e França. Os turistas que visitam a região a cada verão são responsáveis por um aumento de 40% no lixo marinho.
O relatório reúne provas científicas e os dados mais recentes sobre o uso de plástico na Europa e o impacto que estes têm na vida marinha, apresentando um roteiro detalhado das ações urgentes que as instituições, empresas e cidadãos têm de implementar para evitar que os resíduos plásticos cheguem ao mar europeu.
Para Ângela Morgado, Diretora Executiva da ANP/WWF, este problema dos plásticos é um sintoma do declínio geral da saúde do Planeta, defendendo a ambientalista que « Precisamos agir com urgência e em toda a cadeia para salvar os nossos oceanos da presença generalizada de plásticos ».
Grandes pedaços de plástico ferem, sufocam e matam frequentemente animais marinhos, incluindo espécies protegidas e ameaçadas, como tartarugas marinhas e focas-monge. Mas são os microplásticos – fragmentos menores e mais insidiosos – que atingiram níveis recordes de concentração de 1,25 milhão de fragmentos por km quadrado no Mar Mediterrâneo, quase quatro vezes mais altos do que na « ilha de plástico » encontrada no Oceano Pacífico Norte. Ao entrar na cadeia alimentar, esses fragmentos ameaçam um número crescente de espécies animais, bem como pessoas.
De acordo com o relatório, atrasos e lacunas na gestão de resíduos plásticos na maioria dos países do Mediterrâneo estão entre as causas da poluição por plásticos. Das 27 milhões de toneladas de resíduos plásticos produzidos anualmente na Europa, apenas um terço é reciclado; metade de todos os resíduos plásticos na Itália, França e Espanha acaba em aterros sanitários.
Os plásticos reciclados representam atualmente apenas 6% da procura de plásticos na Europa. A WWF pede aos governos, empresas e indivíduos que adotem uma série de ações para reduzir a poluição por plásticos em ambientes urbanos, costeiros e marinhos, no Mediterrâneo e no mundo, incluindo: a adoção de um acordo internacional juridicamente vinculativo para eliminar a descarga de plástico nos oceanos, com alvos nacionais ambiciosos para atingir 100% de resíduos plásticos reciclados e reutilizáveis até 2030 e proibições nacionais para itens plásticos descartáveis, como sacos de plástico. Também reforça o pedido para as empresas investirem em inovação e projetarem um uso de plástico mais eficaz e sustentável.
« A poluição plástica afeta-nos a todos. Somente agindo em conjunto podemos limpar os nossos oceanos, rios e cidades de plásticos desnecessários », concluiu Ângela Morgado.
Alfa/JN/VDigital