Membros da comunidade portuguesa em Londres dizem-se assustados com a violência nas ruas

Membros da comunidade portuguesa em Londres dizem-se assustados com a violência nas ruas – Conselheiro 

 

Membros da comunidade portuguesa em Londres dizem estar assustados com a conjuntura violenta atual do Reino Unido, devido às manifestações da extrema-direita contra os imigrantes, disse hoje à Lusa o conselheiro das Comunidades Portuguesas Pedro Xavier.

« Sei de alguns relatos de membros da comunidade portuguesa em Londres que dizem estar assustados, apesar de ainda não terem sido afetados diretamente, embora uma das meninas assassinadas [em 30 de julho] tenha origem portuguesa, o que, como é óbvio, consternou as pessoas de uma maneira sem precedentes », declarou à Lusa o conselheiro das Comunidades Portuguesas no Reino Unido.

Pedro Xavier referiu que classificar de « protestos » os eventos realizados pela extrema-direita em todo o Reino Unido, com especial ênfase em Londres, a capital, não é correto, pois « para o serem tinham que ser autorizados pelas autarquias locais e pela polícia, que é um protocolo que faz parte da legislação britânica », o que não aconteceu.

Os motins começaram após o assassínio, com uma faca, de três meninas, num centro recreativo de verão em Southport, noroeste de Inglaterra, em que outros oito menores e dois adultos ficaram feridos.

« Infelizmente uma das meninas era portuguesa e nós temos estado em contacto com a família, com os pais, não só eu, mas também o Consulado Geral de Manchester, que era da área de jurisdição da região onde vivem », disse o conselheiro.

Relativamente à comunidade portuguesa, Pedro Xavier disse que esta não tem sido muito afetada – além do episódio trágico com a menor de idade – pois os motins são « direcionados à comunidade muçulmana e a aspetos raciais », o que é também de lamentar, disse.

Estas manifestações, cuja origem está em « desinformação que passou nas redes sociais por algumas pessoas bem conhecidas, já resultaram em cerca de uma centena de polícias feridos de norte a sul do país e as autoridades estão em alerta máximo », frisou.

« Temos tido a informação que este novo executivo, que tomou posse no mês passado, já pôs o exército sobre aviso caso estes tumultos continuem », salientou.

De acordo com Pedro Xavier, a justiça está a funcionar 24 horas por dia e já foram condenadas pelo menos três pessoas que participaram nalguns dos motins, o que passa “uma mensagem forte para que, evidentemente, este caos termine nas ruas de Londres, e nas restantes cidades do Reino Unido ».

O conselheiro adiantou ainda que soube há pouco tempo, através de membros da comunidade portuguesa, que começaram a organizar-se ‘anti-manifestações’ por alguns grupos da comunidade muçulmana e pelo grupo do ‘Black Lives Matter’ (As Vidas Negras Importam, numa tradução livre).

Esta reação é, para si, « preocupante », pois podem existir confrontos que, consequentemente vão « criar ainda mais problemas às autoridades, para conterem todos estes grupos”, uma vez que as autoridades “já estão sob pressão para manterem a ordem nas ruas ».

« Espero que nos próximos dias as autoridades consigam conter esta situação e que as redes sociais ajudem a espalhar informação e não desinformação », lamentou.

O conselheiro disse ainda que na terça-feira houve uma missa de sétimo dia pelo falecimento da criança de origem portuguesa.

« O serviço de Estado das Comunidades e também o governo regional da Madeira ajudaram a família, nomeadamente no sentido de facilitar a presença de familiares junto de si, no Reino Unido. Há também uma união da nossa comunidade de Norte a Sul do país, através de vigílias, missas e de mensagens de conforto », frisou.

A violência que se alastrou pelo Reino Unido na última semana teve como pano de fundo rumores parcialmente desmentidos sobre o perfil do suspeito que realizou o crime, que foi erradamente apresentado como um requerente de asilo muçulmano.

De facto, o jovem de 17 anos nasceu em Cardiff, no País de Gales, e, segundo os meios de comunicação britânicos, a sua família é de origem ruandesa.

De acordo com a polícia, pelo menos 378 pessoas foram detidas desde o início dos tumultos, um número que poderá aumentar nos próximos dias.

Alfa/ com Lusa

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