Migrações/UE. ACORDO arrancado a ferros em Bruxelas

Acordo em Bruxelas. UE prevê criar centros para migrantes num documento arrancado a ferros.

O texto final, assinado já a madrugada ia alta, prevê ainda restringir os movimentos de migrantes dentro do espaço comunitário e o endurecimento do controlo das fronteiras externas da União, bem como o fim das quotas migratórias e o aumento do financiamento destinado à Turquia, Marrocos e outros países do norte de África para impedir a migração para a Europa. “A Itália já não está sozinha”, disse o primeiro-ministro italiano. Há ainda “muito trabalho a fazer”, contrapôs Merkel.

Por Hélder Gomes, EXPRESSO

Foi só perto das cinco da manhã de Bruxelas (quatro da manhã em Lisboa) que os líderes europeus conseguiram esta sexta-feira assinar um acordo de mínimos sobre as migrações. Os dirigentes reunidos concordaram estabelecer centros de processamento de requerentes de asilo e restringir os movimentos de migrantes dentro da União Europeia. No entanto, ficou claro que praticamente todas as promessas acordadas seriam assumidas numa “base voluntária” pelos Estados-membros.

A declaração final prevê também o endurecimento do controlo das fronteiras externas da União, bem como o fim das quotas migratórias e o aumento do financiamento destinado à Turquia, Marrocos e outros países do norte de África para impedir a migração para a Europa.

“MUITO TRABALHO A FAZER”, DIZ MERKEL

A chanceler alemã, Angela Merkel, tentou dar uma visão positiva do acordo, sublinhando que era um bom sinal que os líderes tivessem conseguido chegar a um texto comum sobre a controversa questão migratória. Merkel reconheceu, contudo, que havia ainda “muito trabalho a fazer para ultrapassar as visões diferentes”. Não é ainda claro se o acordo será suficiente para apaziguar o parceiro de coligação de Merkel, a CSU, que ameaçou fechar a fronteira da Baviera aos migrantes, uma medida que poria em risco simultaneamente o frágil Governo alemão, que tem apenas três meses e meio, e a livre circulação prevista no Espaço Schengen.

Outro obstáculo ao sucesso da cimeira foi protagonizado pelo novo Executivo italiano, liderado pelo primeiro-ministro, Giuseppe Conte, que, à chegada a Bruxelas, ameaçou usar o seu poder de veto. “Esperamos atos. Esta cimeira será uma escolha e estou disposto a tirar da reunião todas as consequências”, advertiu. No final, Conte acabaria a dizer que “a Itália já não está sozinha”. No início da noite, a chancelar alemã e o primeiro-ministro italiano reservaram 45 minutos para uma conversa a dois, que acabaria ao fim de 20 minutos com a rejeição por Conte das propostas de Merkel, de acordo com diplomatas citados pela agência Reuters.

REUNIÃO TENSA NUM AMBIENTE “TÓXICO” E DE “POLÍTICA PURA”

A maratona negocial foi ainda descrita com tensa e tortuosa, com pequenos grupos de líderes reunidos numa tentativa desesperada de romper o impasse e evitar a humilhação de voltar para casa sem um acordo. De resto, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, acabariam por cancelar a conferência de imprensa conjunta que estava programada.

Se uns descreviam o ambiente como “tóxico”, outros diziam tratar-se de “política pura”, com as emoções à flor da pele como em 2015, o ano em que muitos milhares de migrantes entravam diariamente no espaço da União Europeia. Segundo dados das Nações Unidas, esse número caiu consideravelmente com menos de 45 mil migrantes a chegarem este ano.

Apesar do texto comum, os países do leste, liderados pela Polónia e pela Hungria, ainda se recusam a aceitar uma parte dos recém-chegados para aliviar o peso que essa pressão migratória representa para países como a Itália e a Grécia. E apesar de tudo isto, o Presidente francês, Emmanuel Macron, ainda conseguiu dizer que a cooperação europeia “ganhou o dia”.

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