Milhares de candidatos portugueses nas municipais francesas

Milhares de candidatos portugueses nas municipais francesas – reportagem com grande parte das entrevistas efetuadas em colaboração conjunta Alfa/Expresso

A pandemia abalou o calendário eleitoral francês  Foto FREDERICK FLORIN/GETTY IMAGES

Portugueses e seus descendentes disputam hoje a segunda volta das autárquicas francesas, espalhando-se por todas as listas do espectro político, da esquerda radical à extrema-direita. Eleições poderão ser marcadas por uma forte abstenção, designadamente devido à pandemia

Alfa/Expresso (Exclusivo). Por Daniel Ribeiro

É difícil indicar o número exatos de candidatos portugueses às eleições municipais francesas, cuja segunda volta, adiada desde março por causa da covid-19, se disputa este domingo. O motivo é que os portugueses com dupla nacionalidade são contados como eleitores franceses, mas Paulo Marques, adjunto do presidente da Câmara da cidade de Aulnay-sous-Bois, nos arredores de Paris — eleito logo à primeira volta, a 15 de março com perto de 60% dos votos —, aponta para 10 mil a 15 mil candidatos portugueses e lusodescendentes nestas eleições.

Presidente da Cívica, uma associação que agrupa autarcas de origem portuguesa, Marques afirmou ao Expresso que o número de eleitos nas últimas eleições, há seis anos (cerca de 4000 segundo fontes oficiais como o Governo francês e a embaixada portuguesa em Paris), deverá ser largamente ultrapassado nesta segunda volta.

O ato eleitoral foi interrompido em março devido à pandemia de covid-19. Por esse motivo a segunda volta, de início prevista para 22 de maço, só se realiza hoje, dia 28. Há candidatos portugueses ou de origem portuguesa em municípios do sul ao norte da França, de Clermont Ferrand a Metz.

Em regiões como Val de Marne (arredores de Paris), onde os portugueses se instalaram há dezenas de anos, os candidatos portugueses, com nacionalidade única, binacionais ou franceses de origem portuguesa contam-se às centenas.

DE SOCIALISTAS A APOIANTES DE LE PEN

Figuram em todas as listas, incluindo por exemplo numa do Ajuntamento Nacional (extrema-direita, de Marine le Pen, a antiga Frente Nacional) em Brie-Compte-Robert. Ali uma portuguesa com nacionalidade única figura em segundo lugar na lista apresentada por Morgann Vanacker (que ficou em terceiro lugar na primeira volta).

“Temos no partido uma relação muito boa com os portugueses e no nosso programa propomos mesmo a organização de uma grande festa anual popular, musical e gastronómica portuguesa na nossa cidade”, disse Vanacker ao Expresso. Segundo cálculos feitos para o Expresso pelo presidente da Câmara local, o socialista Jean Laviolette, habitarão em Brie-Compte-Robert 3000 a 3500 portugueses e descendentes (a cidade conta com 16 mil habitantes).

Paulo Marques é de direita (do partido Os Republicanos) e é um dos pioneiros na participação portuguesa na vida eleitoral francesa. Pode dizer-se praticamente o mesmo de Hermano Sanches Ruivo, socialista e vereador em Paris, que volta a concorrer e disputa hoje a segunda volta no 14.º bairro da capital. Fundador das associações Cap Magellan e Activa, Sanches Ruivo sublinha ao Expresso a forte participação de portugueses e seus descendentes nestas eleições.

Segundo as contas de Paulo Marques, foram eleitos à primeira volta 86 candidatos portugueses ou de origem lusa para diversas câmaras na vasta região parisiense. Tal como na primeira volta, a segunda volta poderá ser marcada por forte abstenção, designadamente devido a receios ligados à pandemia.

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