Ministra da Cultura diz que para obra de José Afonso ser classificada é necessário aceder a gravações

A ministra da Cultura, Graça Fonseca, afirmou hoje que a obra musical de José Afonso pode ser classificada como Património Material Móvel, mas, para que tal aconteça « é preciso ter acesso às ‘masters’ e ao seu conteúdo ».

Graça Fonseca falava numa audição, que se iniciou pelas 12:00 no Ministério da Cultura, em Lisboa, com Francisco Fanhais e Manuel Freire, da Associação José Afonso (AJA), que lhe entregaram a petição com mais de 11 mil assinaturas para apelar à salvaguarda e reedição da obra do cantautor português.

Graça Fonseca esclareceu que a classificação é uma das formas de proteger a obra, mas não a única, acrescentando que há uma dificuldade em iniciar esse processo de classificação.

A ministra revelou que o Arquivo Sonoro Nacional e a Direção-Geral do Património Cultural, em diálogo com os herdeiros de José Afonso (detentores dos direitos da obra musical), « têm feito trabalho técnico de construção do que é necessário » para iniciar um processo de classificação.

Isto porque, « até agora, nenhum património deste tipo [‘masters’ com fonogramas] foi classificado ». « Não existe », reforçou a ministra da Cultura.

Aos dirigentes da AJA, Graça Fonseca assegurou: « Se o processo de classificação não se iniciou não foi por falta de vontade ».

José Afonso, que nasceu faz hoje 90 anos, em Aveiro, começou a cantar enquanto estudante em Coimbra, tendo gravado os primeiros discos no início dos anos 1950 com fados de Coimbra, pela Alvorada, « dos quais não existem hoje exemplares », refere a associação na biografia oficial do músico.

« Voz de um povo sofrido, voz de denúncia, voz de inquietude. Voz sinete da revolução de Abril », como descreve a AJA, José Afonso gravou álbuns como « Cantares do Andarilho », « Traz Outro Amigo Também », « Cantigas do Maio », « Venham Mais Cinco » e « Coro dos Tribunais ».

Autor de « Grândola, Vila Morena », uma das canções escolhidas para anunciar a Revolução de Abril de 1974, José Afonso morreu a 23 de fevereiro de 1987, em Setúbal, de esclerose lateral amiotrófica, diagnosticada cinco anos antes.

A família do músico José Afonso revelou hoje à agência Lusa que apoia a classificação e « o reconhecimento do interesse público » da obra fonográfica do cantautor português.

Em nota enviada à Lusa, a família de José Afonso, explicou que « tem vindo a colaborar diretamente com o Ministério da Cultura, desde 2018, para que este desenvolva o processo de classificação dos registos ».

A família considera que « as recentes iniciativas públicas relacionadas com este tema, incluindo uma resolução na Assembleia da República e uma petição, vieram reforçar o acerto e a oportunidade desta classificação ».

« Espera-se que este processo resulte, não apenas no reconhecimento oficial da importância maior desta obra, mas também na sua eficaz proteção e preservação para as gerações vindouras », sustentou.

A petição promovida pela Associação José Afonso (AJA) foi iniciada com o objetivo de acelerar o processo de classificação da obra de José Afonso, com vista à sua proteção e reedição, porque a maioria do trabalho do cantor está indisponível no mercado discográfico.

Em junho, quando foi lançada a petição, o presidente da AJA, Francisco Fanhais, explicava que se estava perante « um imbróglio jurídico, porque a Movieplay [editora que detém os direitos comerciais da obra de José Afonso] está em situação de insolvência e não se sabe do paradeiro dos ‘masters’ das músicas gravadas pelo Zeca Afonso », o que compromete a reedição destes trabalhos.

Um mês depois, a 19 de julho, o parlamento aprovou um projeto de resolução do PCP que recomendava ao Governo a classificação da obra de José Afonso como de interesse nacional, precisamente com vista à sua reedição e divulgação.

 

 

Alfa/Lusa.

Video: RTP.

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