Três anos mais nova que Amália, a fadista contava 95 anos e iniciou a sua carreira na década de 40 do século XX. Em 2012, fora condecorada pela Presidência da República com o grau de Comendadora da Ordem do Infante D. Henrique.
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Morreu a fadista Celeste Rodrigues, aos 95 anos, confirmou o neto, Diogo Varela Silva.
« É com um enorme peso no coração, que vos dou a notícia da partida da minha Celestinha, da nossa Celeste. Hoje deixou uma vida plena do que quis e sonhou, amou muito e foi amada, mas acima de tudo, foi a pedra basilar da nossa família, da minha mãe, da minha tia, dos meus irmãos, sobrinhos e filhos, somos todos orgulhosamente fruto do ser humano extraordinário que ela foi”, escreveu no Facebook.
Aos 5 anos, os seus pais vieram para Lisboa e estabeleceram-se no bairro de Alcântara. « Maria rapaz » e traquina embora tímida, como recordaria depois, cedo se empregou numa fábrica de bolos. Mais tarde, com a irmã Amália, venderia artigos regionais na Rocha Conde de Óbidos.
Estreou-se no Casablanca (atual ABC), no Parque Mayer, em 1945 com a ajuda da irmã Amália e a convite do empresário José Miguel. Pouco depois, é contratada para apresentações em Madrid e no Brasil, acompanhando Amália. Em terras brasileiras, demorou-se um ano em digressão.
No regresso a Lisboa é figura de de destaque em casas de fado da capital – Café Latino, Marialvas, Café Luso ou a mesma Adega Mesquita onde foi descoberta. Volta ao Brasil no início da década de 50, atuando no restaurante Fado, propriedade de Tony de Matos em Copacabana, no Rio de Janeiro. Ao longo da década de 50, continuou a atuar no Brasil e foi várias vezes cantar às então províncias ultramarinas. A sua voz foi das primeiras a fazerem-se ouvir na televisão portuguesa, logo no período experimental da RTP, em 1956.
Casou aos 30 anos com o ator Varela Silva, pai das suas duas filhas, com quem abriu uma casa de fados, A Viela. Ao fim de quatro anos, a casa da Rua das Taipas é fechada e Celeste passa a integrar o rol de fadistas da Parreirinha de Alfama, sob a alçada de Argentina Santos, no início dos anos 60.
Convidada por João Ferreira-Rosa no início dos anos 70, passa para a Taverna do Embuçado onde faz atuações regulares ao longo de 25 anos.
Na sombra de Amália, estrela maior, fez carreira sobretudo nas casas de fados, popularizando temas como ‘A Lenda das Algas’ ou o ‘Fado das Queixas’. O seu maior êxito foi ‘Olha a Mala’, de Manuel Casimiro.
Sem o mesmo impacto de Amália, chegou a salas afamadas como o Concertgebouw em Amesterdão, o Carnegie Hall em Nova York e o Cité de la Music em Paris.
Era uma das fadistas mais velhas no ativo, não tendo parado de cantar até aos dias de hoje. O seu último disco, « Fado Celeste », foi editado em 2007, e três anos depois a sua vida e obra foram alvo de um documentário com o mesmo nome realizado pelo neto, Diogo Varela Silva. Reconhecida pelas gerações mais novas, viu o seu último álbum reunir tradicionais e inéditos com letras de autores contemporâneos, como Helder Moutinho e Tiago Torres da Silva.
A 8 de junho de 2012 o então Presidente da República Aníbal Cavaco Silva atribuiu-lhe o grau de Comendadora da Ordem do Infante D. Henrique.
Entrou em 2018 em Nova Iorque, convidada por Madonna, que conheceu num convívio em Lisboa. « Foi espantoso sentar-me ao lado da lenda viva Celeste Rodrigues », declarou a estrela norte-americana.