Morreu o ensaísta Eduardo Lourenço
A notícia foi confirmada à agência Lusa por fonte da Presidência da República.
Professor, filósofo, escritor, crítico literário, ensaísta, interventor cívico, várias vezes galardoado e distinguido, Eduardo Lourenço foi um dos pensadores mais proeminentes da cultura portuguesa.
Entre as várias distinções que recebeu estão o Prémio Casa da Imprensa, em 1974, o Prémio Jacinto do Prado Coelho, em 1986, o Prémio Europeu de Ensaio Charles Veillon, em 1988, o Prémio Camões, em 1996, o Prémio Pessoa, em 2011, e Prix du Rayonnement de la Langue et de la Littérature Françaises de l’Académie Française, em 2016.
Na notícia da sua morte o Diário de Notícias destaca:
« Morreu Eduardo Lourenço, o filósofo que procurou Portugal no seu labirinto ».
Depois escreve:
« A obra de Eduardo Lourenço não cabe em nenhuma estante. São dezenas de volumes que deixa escritos – centenas de ensaios e milhares de opiniões – e onde a presença de Portugal é marcante, mesmo que tenham sido escritos em Bordéus, onde estagiou com uma bolsa Fulbright (1949), em Hamburgo ou Heidelberg onde foi leitor de Cultura Portuguesa (1953 a 1955), na Universidade de Montpellier (1956 a 1958), numa estada na Universidade Federal da Bahia em 1959, ou vivendo em França a partir de 1960 e durante quase quatro décadas, após as quais regressa periodicamente a Portugal e depois da morte da mulher em definitivo. Para trás fica a residência em Vence, com atividade docente nas universidades de Grenoble e de Nice, para assumir o cargo de administrador na Fundação Gulbenkian. »
Leia aqui a nota sobre Eduardo Lourenço publicada há momentos no site da Presidência da República:
« Presidente da República evoca e agradece a Eduardo Lourenço
Eduardo Lourenço foi, desde o início da segunda metade do século passado, o nosso mais importante ensaísta e crítico, o nosso mais destacado intelectual público.
Tendo vivido durante décadas em França, e sendo estruturalmente francófilo, poucos foram os «estrangeirados» tão obsessivos na sua relação com os temas portugueses, com a cultura, identidade e mitologias portuguesas, com todos os seus bloqueios, mudanças e impasses.
Nunca esteve, por isso, alheado dos debates do nosso tempo, nem das vicissitudes da política. Devemos-lhe algumas das leituras mais decisivas de Pessoa, que marcam um antes e um depois, e um envolvimento, muitas vezes heterodoxo, nas questões religiosas, filosóficas e ideológicas contemporâneas, do existencialismo ao cristianismo conciliar e à Revolução.
Ninguém entre nós pensou a Europa e Portugal em conjunto, sem excepcionalismos nem deslumbramentos, numa linha de fidelidade ao humanismo crítico de um dos seus mestres, Montaigne.
E entre todos os intelectuais portugueses da sua envergadura, nenhum outro foi tão alheio à altivez, à auto-satisfação, ao desdém intelectual, ao desinteresse pelas gerações seguintes.
Vencedor de diversos prémios, incluindo o Pessoa e o Camões, distinguido por quatro vezes com ordens nacionais, e também reconhecido no estrangeiro, o Prof. Eduardo Lourenço deu-me a honra de integrar o Conselho de Estado.
Aos seus familiares apresento as minhas sentidas condolências pela perda deste amigo, deste sábio, desta figura essencial do Portugal que vivemos. »