
Figura conhecida da comunidade portuguesa em França, foi militante, escritor, poeta, antropólogo, radialista e, durante muitos anos, diretor do Festival de Cinema Lusófono organizado em Nice, Cannes e Grasse. Exerceu também funções na Coordenação das Coletividades Portuguesas de França (CCPF).
Num tributo público, Julien Picot, secretário departamental do Partido Comunista Francês (PCF 06), recordou-o como «um passador de memória e um companheiro de combate durante toda a vida». Nascido em Saint-Denis, filho de um refugiado político português e de mãe francesa, Pedro da Nóbrega «trazia no corpo e no pensamento a luta contra a ditadura, a memória da Revolução dos Cravos e a esperança num mundo livre da exploração», acrescentou.
Também a académica e militante Luísa Semedo lhe prestou homenagem, descrevendo-o como «antifascista, homem de cultura, de transmissão, grande conhecedor e divulgador de cinema, símbolo do espírito associativo», sublinhando o seu envolvimento na CCFP. Fala ainda, com carinho, do «nosso rabugento preferido».
Colaborou de perto com o Partido Comunista, como assessor do grupo comunista no Conselho Departamental dos Alpes-Maritimes, tendo igualmente trabalhado com a antena departamental do Conselho Regional. Para Julien Picot, tratava-se de «um militante precioso, uma voz amiga, um intelectual comprometido que colocava a sua erudição ao serviço da causa popular».
O partido lembra-o também como uma ponte entre o Partido Comunista Português e o Partido Comunista Francês, salientando a sua participação ativa na construção de laços de diálogo, solidariedade e luta comum.
Pedro da Nóbrega publicava regularmente poemas no LusoJornal, centrados na memória de Abril, mas também na luta pela emancipação das mulheres, pela liberdade, pela fraternidade e pela paz.
À frente do Festival de Cinema Lusófono de Nice, promoveu com orgulho não só a cultura portuguesa, mas também a dos restantes países de língua portuguesa. Foi um dos fundadores da associação Espace de Communication Lusophone, através da qual desempenhou também cargos dirigentes na CCPF. «Nunca deixou de abrir janelas para os cinemas e as culturas lusófonas», recorda Luísa Semedo.
«Perdemos um camarada fiel, um espírito livre e exigente, um homem profundamente humano», afirmou ainda Julien Picot. «O Pedro continuará vivo nas nossas lutas, nos nossos corações e no ideal comunista que era o seu: construir um mundo de justiça, dignidade e paz.»
Com a sua morte, Portugal perde igualmente um promotor cultural e organizador de eventos que muito contribuíram para dar a conhecer a cultura portuguesa ao público francês.
Nos últimos anos, a sua saúde fragilizou-se bastante, sobretudo após um AVC que o deixou debilitado.
Com LusoJornal e Nice Matin.