O salto gigantesco para a humanidade com mão portuguesa
A humanidade deu « um salto gigantesco » quando o astronauta Neil Armstrong se tornou o primeiro Homem a pisar a Lua, sob as cores de uma bandeira norte-americana, cosida por uma portuguesa, e perante o olhar de milhões na Terra.
Foi há 50 anos, mas, devido à diferença horária, Portugal só acordou de madrugada para as palavras de Armstrong quando poisou o pé esquerdo na Tranquilidade lunar.
Aproximavam-se as quatro da manhã do dia 21 de julho de 1969 (era ainda a noite de 20 de julho nos Estados Unidos) quando os portugueses ouviram o astronauta da agência espacial norte-americana NASA a proferir a frase que o tornou célebre: « É um pequeno passo para o Homem, um salto gigantesco para a humanidade ».
As imagens que chegaram a preto-e-branco da televisão portuguesa apanharam o artista plástico João Abel Manta, autor de cartazes do Movimento das Forças Armadas, « cheio de sono ».
« Fiz um esforço terrível para não dormir », conta, citado pelo extinto jornal Diário de Lisboa, que dedicou as três edições desse dia ao « sonho tornado realidade, o Homem já chegou à Lua ».
O vespertino titulava que « Armstrong e Aldrin caminharam duas horas sobre o solo lunar » e « pulavam como cangurus ». Na Lua, a força gravitacional é muito inferior à da Terra, devido à sua menor massa, tornando qualquer corpo na sua superfície mais leve.
Depois de Neil Armstrong, comandante da missão Apollo 11, o astronauta Buzz Aldrin, piloto do módulo lunar « Eagle », foi o segundo Homem a pisar a superfície da Lua, onde encetou como que uns passos de dança, como mostra um dos vídeos da NASA.
Apesar de ter falhado as primeiras imagens transmitidas em direto pela televisão, mas vistas por centenas de milhões de pessoas em todo o mundo, João Abel Manta, « um obcecado por ficção científica », relatou ao Diário de Lisboa que achou bonito o que viu, « principalmente quando um dos astronautas andou com a câmara à volta para apanhar o horizonte todo ».
« Delicioso aquele medalhão do Nixon a falar ao telefone com os tipos », acrescenta.
Nas duas horas e meia em que caminharam no Mar da Tranquilidade, região quase plana e escura onde o « Eagle » alunou em 20 de julho, depois de se ter distanciado da zona inicialmente prevista, os dois astronautas norte-americanos falaram com o Presidente dos Estados Unidos Richard Nixon, que os felicitou, recolheram amostras de solo e rocha lunar, instalaram instrumentos científicos, como um sismómetro, fixaram, sem conseguirem enterrar, uma bandeira americana, cosida por Maria Isilda Ribeiro, que trabalhava na fábrica Annin, em Nova Jérsia, e registaram imagens.
Deixaram para trás medalhas em homenagem à tripulação da primeira missão lunar, a Apollo 1, que morreu num teste de lançamento, e uma placa com a inscrição « Viemos em paz em nome de toda a humanidade ».
Antes de regressar ao módulo lunar, Neil Armstrong ainda inspecionou uma cratera com 33 metros de diâmetro, o ponto mais distante do « Eagle » na superfície da Lua.
O comandante da Apollo 11 e Buzz Aldrin voltariam a juntar-se ao restante elemento da tripulação da missão, Michael Collins, piloto do módulo de comando « Columbia », a 21 de julho, depois de o « Eagle » ter estado alunado durante 21 horas e 36 minutos.
Dos três astronautas norte-americanos, Collins foi o único que não esteve na superfície da Lua, apenas na sua órbita, a bordo do « Columbia », cerca de 28 horas, o tempo em que os dois módulos estiveram separados.
A tripulação, que descolou a 16 de julho de 1969 do Centro Espacial Kennedy, na Florida, Estados Unidos, a bordo do foguetão Saturno V, então o maior e mais poderoso, concebido por um engenheiro alemão nazi, Wernher von Braun, regressou à Terra no « Columbia », que amarou no Oceano Pacífico, a cerca de 1.400 quilómetros da oeste do Havai, em 24 de julho.
Ao todo, a missão Apollo 11 durou oito dias, três horas, 18 minutos e 35 segundos, de acordo com os arquivos da NASA.
A meta que o Presidente dos Estados Unidos John Kennedy traçara em 1961, dois anos antes de ser assassinado em Dallas, tinha sido cumprida, a de colocar astronautas na Lua e fazê-los regressar em segurança à Terra antes do fim da década de 1960.
Na sua autobiografia « Magnífica desolação », de 2009, Buzz Aldrin apresenta a alunagem como a reafirmação do sonho americano, face à ameaça da supremacia da União Soviética, que lançou para o espaço o primeiro satélite, o « Sputnik », e o primeiro Homem, o cosmonauta Iuri Gagarin.
Num outro livro, « Missão para Marte: a minha visão sobre a exploração espacial », de 2013, Aldrin, que teve dificuldade em exprimir o significado da sua estada na Lua, descreve o seu cheiro como cinzas de uma lareira borrifadas de água e define-se como « o primeiro extraterrestre, de um outro mundo, a entrar numa nave para ir para a Terra ».
O astronauta lidou mal com a fama que a viagem à Lua lhe deu, tendo-se refugiado durante vários anos no álcool e na depressão. Mas, aos 89 anos, é o mais ativo dos coroados heróis da Apollo 11, que tem defendido com garras a continuidade da exploração espacial, inclusive para Marte, multiplicando-se em projetos pedagógicos e de divulgação.
Num vídeo difundido pela NASA para assinalar o 50º aniversário da chegada do Homem à Lua, Aldrin, que foi o primeiro astronauta doutorado, com formação militar, resume o significado da Apollo 11 como « exploração, arriscar por grandes recompensas na ciência e na engenharia ».
Michael Collins, 88 anos, tem sido mais comedido nas aparições públicas. Na década de 1970 foi o primeiro diretor do Museu Nacional do Ar e do Espaço, com sede em Washington, que tem como uma das relíquias a nave « Columbia », que ele próprio pilotou.
Neil Armstrong, o único dos três astronautas que era civil e o mais reservado, que após a Apollo 11 regressou à vida universitária como professor de engenharia, morreu em 2012, aos 82 anos.
Apesar de ter morrido, o seu « salto gigantesco para a humanidade » ficou imortalizado no ecrã e num « pequeno passo » que a falta de vento e chuva na Lua, devido à ausência de atmosfera, terá preservado no solo.