“Número dois” do Vaticano pede aos políticos que lutem pela dignidade humana e recusem a mediocridade 

The Portuguese President of the Republic, Marcelo Rebelo de Sousa (L), kisses the hand of the Vatican's secretary of state, Cardinal Pietro Parolin during the closing ceremony of the Jubillee commitment with the city, at Calouste Gulbenkian Foundation, in Lisbon, 13 september 2025. JOSE SENA GOULAOLUSA

O “número dois” da Igreja Católica encorajou hoje em Lisboa os políticos e autoridades civis a lutar pela dignidade humana num tempo de “múltiplas desolações”, e que não se contentem com a mediocridade.

 “Vivemos tempos de particular complexidade. Cercam-nos múltiplas desolações: guerras, violências, crianças feridas, infraestruturas civis destruídas. Contudo, precisamente no meio de tudo isto, somos chamados a agir sem demora”, afirmou o secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, numa celebração em Lisboa, por ocasião do Jubileu das Autoridades Civis, organizado pelo Patriarcado.

“Na vossa elevada vocação como parlamentares e legisladores, diplomatas, políticos e funcionários públicos, sois chamados a muito mais do que administrar ou governar”, pelo que “exorto-vos a prosseguir corajosamente neste compromisso, a trabalhar por um mundo em que o poder seja dominado pela consciência e a lei esteja ao serviço da dignidade humana”, disse o cardeal italiano, pedindo aos presentes que tenham “esperança cristã”.

“É uma esperança que nos chama a não parar, a não nos contentarmos, a não permanecer na mediocridade”, disse.

O “futuro da prosperidade humana não depende simplesmente de programas económicos ou de estratégias geopolíticas”, mas do “amor em torno do qual escolhemos organizar a nossa sociedade”, e tanto pode ser um sentimento que leva o mundo a “fechar-se sobre si mesmo, tornando-se em egoísmo e egocentrismo, ou abrir-se aos outros, ao amor a Deus e ao próximo”, acrescentou.

Sobre a relação com o mundo, Parolin considera que a “Igreja não pode limitar o seu campo de ação apenas ao horizonte espiritual”, porque a política é também “o conjunto das relações que estruturam a convivência humana segundo um modelo cívico, que inclui finalidades políticas, económicas, sociais e culturais”.

Na cerimónia, Parolin recordou o mandato missionário da Igreja e “Lisboa, como todas as capitais e metrópoles mundiais, representa o palco privilegiado onde o empenho concreto das autoridades civis e religiosas pode realizar este objetivo”.

“Neste tempo complexo e marcado por profundas fraturas, sentimos uma necessidade que precede até o dever: a de voltar a falar, com coragem e verdade, da dignidade humana”, uma “dignidade que não é concedida, mas reconhecida; que é infinita e inalienável, própria de cada homem e cada mulher, sem qualquer exclusão”, disse.

Por isso, “magistrados, diplomatas, militares, forças de segurança, políticos, advogados e outros profissionais da Administração Pública são chamados a assumir um papel ativo na construção da paz, da justiça, da proximidade, da verdade e do bem comum, no coração de Lisboa”, resumiu.

E neste contexto, considerou, “a missão própria da Igreja, confiada por Cristo, é de natureza religiosa, não política, económica ou social”, mas pode “contribuir de modo significativo para o bem comum e para a construção de uma sociedade mais justa”.

Num tempo e que as “instituições estatais e internacionais parecem incapazes de fazer prevalecer o direito, a mediação e o diálogo”, nas cidades, “os cristãos entram em contacto com pessoas de diferentes sensibilidades, com crentes de outras religiões e com não crentes”.

O cardeal italiano recordou o Jubileu dos Governantes, presidido por Leão XIV, que recordou aos políticos a missão de “tutelar o bem da comunidade”, de promover uma verdadeira liberdade religiosa e de responder ao “grande desafio da inteligência artificial”, para projetar “estilos de vida saudáveis, justos e seguros”.

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