Dick Rivers, o gato selvagem do rock’n’roll francês, morreu aos 74 anos

Foi ao lado de Johnny Hallyday e Eddy Mitchell, enquanto liderava Les Chats Sauvages, um dos pioneiros do rock’n’roll em França. Morreu aos 74 anos, na sequência de um cancro.

A sua história tem início semelhante à de tantos deste lado do Atlântico. Nascido em Nice, filho de comerciantes, ouviu aquele som novo, eléctrico, selvagem, sair das rádios e jukeboxes e, a partir daí, não havia forma de voltar atrás. Joaquim Costa, pioneiro do rock’n’roll em Portugal, ouviu certo dia Bill Haley & His Comets a rockar numa jukebox do Parque Mayer e não descansou enquanto não se fez ele mesmo cantor. Em França, pela mesma altura, Hervé Forneri ouviu Gene Vincent e Elvis Presley e o caminho abriu-se perante si. Havia de tornar-se Dick Rivers, nome retirado a uma personagem de um filme de Presley, havia de fundar os Les Chats Sauvages e, com eles e depois a solo, garantir um lugar na história do rock’n’roll e do yé-yé francês.

Dick Rivers, o cantor da voz grave e dos passos enérgicos em palco morreu na madrugada desta quarta-feira, dia em que completava 74 anos, consequência de um cancro. A notícia foi dada pelo seu manager, Denis Sabouret. Como os outros dois nomes que completam a trindade do rock’n’roll inicial francês, Johnny Hallyday, falecido em Dezembro de 2017, também aos 74 anos, e Eddy Mitchell, actualmente com 76, Dick Rivers destacou-se por ter transportado para França, muitas vezes em versões traduzidas para o francês, o som e as canções que brotavam dos Estados Unidos e, logo depois, de Inglaterra — ouvimos pela sua voz canções de Ray Charles, de Jerry Lee Lewis, de Elvis, de Roy Orbison, a quem dedicaria um álbum inteiro nos anos 1990, Holly Days in Austin, ou, mais tarde, de Cliff Richard & The Shadows e dos Beatles.

Incontornável na sua história foi o breve período que passou na banda que co-fundou em 1961, Les Chats Sauvages. Foi vocalista da banda durante um período que mal ultrapassou um ano, mas os 7 EPs e os dois álbuns que Les Chats Sauvages editaram nesse período, e o sucesso de Est-ce que tu le sais? (versão de What I’d say, de Ray Charles) ou de Twist à Saint-Tropez, garantiram-lhe estrelato duradouro. Não só em França: num país onde a influência da cultura francesa se sobrepunha ainda ao eixo-anglo-saxónico, como era o caso de Portugal no início da década de 1960, Les Chats Sauvages foram para muitos a porta de entrada no rock’n’roll.

No percurso a solo foi-se cruzando com os seus ídolos americanos – partilhou palco com os Beach Boys no Olympia, em 1966, encontrou-se com o seu herói, Elvis Presley, nuns bastidores de Las Vegas, três anos depois — e, mantendo firme a influência da força original do rock’n’roll, mostrou-se atento à evolução musical do seu tempo — em L’Interrogation, de 1969, rodeia-se de secção de cordas e de metais e encontramo-lo mesmo a flirtar com o psicadelismo.

 

 

Nos anos 1970, marcados por colaborações com Alain Bashung, aproximou-se da country e do blues, nos de 1980 participou na reunião dos Les Chats Sauvages. Na década de seguinte começou a impor-se definitivamente como um dos senadores do rock francês – em 1994 sai Very Dick, um resumo de carreira que cimenta esse estatuto. Uma nova geração de cantores franceses, Benjamin Biolay entre eles, junta-se para lhe prestar homenagem, compondo e gravando as canções de um álbum homónimo editado em 2006. O último álbum de originais, Rivers, chegou em 2014.

 

Jornal Público.

Article précédentPAMELA ANDERSON EM GUERRA COM A FUNDAÇÃO DO MARSELHA POR CAUSA DA NOTRE-DAME
Article suivantFinal da Taça de Portugal marcada para as 18:15 (Paris) de 25 de maio