O « sermão » de Macron à idosa ferida em Nice numa « manif » dos « coletes ». O que se escreve em Portugal

Manifestante idosa vai parar ao hospital com crânio partido. Macron critica-a por falta de sabedoria.

REUTERS

As palavras do Presidente francês lembraram porque é ele tido como arrogante e suscitaram reações imediatas de vários sectores políticos.

Um texto de Luís M. Faria in Expresso online

Uma idosa que participava numa manifestação dos ‘coletes amarelos’ em Nice – onde Macron se encontrava reunido com o Presidente chinês Xi Jinping –ficou magoada com alguma gravidade depois de cair e rachar a cabeça quando a polícia de choque investiu contra os manifestantes. Mas em vez de se solidarizar, como fariam outros políticos, o Presidente francês Emanuel Macron passou-lhe um sermão.

« Quando uma pessoa é vulnerável e há o risco de ser empurrada, não vai para lugares não autorizados e não se põe neste tipo de situação », comentou. « Essa senhora não estava em contacto com as forças da ordem. Pôs-se deliberadamente numa situação em que foi para uma área reservada e foi apanhada num movimento de pânico. Lamento profundamente, mas temos de respeitar a ordem pública em todo o lado ».

« Desejo-lhe uma recuperação rápida – e talvez alguma sabedoria », concluiu Macron. Mal as palavras se ouviram, surgiram críticas de vários quadrantes. O líder do partido França de Pé, Nicolas Dupont-Aignan, chamou-lhe desumano e arrogante. Jean-Luc Mélenchon, líder do França Insubmissa, um partido de extrema-esquerda, disse que Legay não precisava das lições de Macron e que ele é que tinha muito a aprender com ela.

A família de Legay, por sua vez, anunciou que tenciona apresentar queixa contra a polícia. O seu advogado lamentou que o Presidente tenha criticado uma pessoa que se encontra no hospital e que, pelos vistos, « considere que os idosos não podem exprimir as suas convicções na rua ».

Macron, que em tempos chegou a definir a presidência francesa como jupiteriana, tem-se notabilizado por dar conselhos altivos a várias categorias de pessoas, seja um desempregado que o abordou (basta cruzar a rua para arranjar emprego, disse-lhe Macron) até um jovem que o tratou de modo informal, recebendo em troca uma severa reprimenda pública que muita gente considerou exagerada para a circunstância.

A iniciativa de promover um « grande debate nacional » pelo país fora visou em parte contrariar a imagem de distância e superioridade atribuída a Macron, perante a dimensão que atingiu o movimento dos ‘coletes amarelos’. Mas gestos como o que agora teve em relação a uma mulher idosa relembram os motivos porque essa imagem existe.

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