Nações Unidas estimam em mais de 2,6 milhões portugueses emigrados
Mais de 2,6 milhões de portugueses vivem atualmente emigrados, segundo a mais recente revisão das estimativas sobre as migrações internacionais das Nações Unidas (ONU) divulgadas hoje pelo Observatório da Emigração (OE) com ressalvas sobre a sua fiabilidade.
De acordo com as Nações Unidas, 2.631.559 portugueses residiam no estrangeiro em 2019, 57% na Europa (1.493.128), 40% no continente americano (1.051.484) e 3% (86.947) na África, Ásia e Oceânia.
Os novos dados revelam um « acentuado crescimento de portugueses no continente americano e decréscimo nos continentes europeu e africano », variações que levantam questões de « fiabilidade » e devem ser « lidas com cautela », segundo o OE.
Estes dados refletem novos valores para 2019, a eliminação do ano de 2017 e alterações significativas na série de dados para os anos entre 1990 e 2015.
Inês Vidigal, do Observatório da Emigração, explicou, em declarações à agência Lusa, que os resultados da revisão « não correspondem aos dados » do próprio observatório nem dos institutos de estatística dos países de acolhimento.
« Temos valores muito díspares. Por exemplo, os valores do Canadá aumentam quase seis vezes e não correspondem ao último censos que o Canadá tinha feito em 2016. Passamos de 143 mil para 624 mil [emigrantes portugueses]. É uma diferença que não nos parece correta », adiantou.
Esta responsável do OE assinala, por outro lado, a « diminuição muito grande » verificada nos valores de Angola, que passa de 92 mil para 5 mil portugueses residentes.
« Estes são os casos mais extremos. Globalmente, os valores antigos de 2,3 milhões de portugueses emigrantes [estimados peas Nações Unidas] estão mais perto daquilo que será a realidade », considerou.
Por anos, as maiores diferenças assinaladas referem-se a 2015 e à comparação entre os anos de 2019 e 2017.
Apesar das dúvidas suscitadas pelas novas estatísticas, Inês Vidigal assume como responsabilidade do Observatório ir divulgando a informação que vai sendo produzida.
« Temos questões e estamos a tentar perceber com as Nações Unidas o que é que significa esta diferença, mas também não queremos que nos digam que os dados saíram e que não falamos sobre eles », disse, adiantando que, por agora, os novos valores não foram integrados na informação oficial disponível no site do OE.
O OE admite, contudo, que as variações registadas podem estar menos relacionadas com as alterações nos movimentos populacionais e mais com o registo e a estimativa desses movimentos.
De acordo com as anteriores estatísticas das Nações Unidas, em 2017 residiam no estrangeiro 2.266.735 portugueses, 1.502.151 na Europa, 592.642 na América e 171.942 em outras regiões.
No mesmo ano, o Banco Mundial estimava em 2.289.642 o número de emigrantes portugueses.
O Observatório da Emigração é uma estrutura técnica e de investigação independente integrada no Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do ISCTE-IUL.
Criado em 2019, o Observatório tem como objetivos monitorizar a evolução e as características da emigração portuguesa e das populações portuguesas emigradas, divulgar a informação e promover a sua disponibilização e discussão ao público em geral bem como a investigadores, estudantes, decisores políticos e jornalistas.
A estrutura visa ainda contribuir para a definição e avaliação de políticas públicas de emigração.