Operação Influencer. Juiz considera « vagas » e « contraditórias » suspeitas do Ministério Público

O secretário-geral do Partido Socialista (PS), António Costa, fala aos jornalistas à chegada à sede nacional do partido para a reunião da comissão política nacional para análise da situação política, Lisboa, 09 de novembro de 2023. RODRIGO ANTUNES/LUSA

O juiz de Instrução Criminal da Operação Influencer considera « vagas » e até « contraditórias » as suspeitas do Ministério Público contra António Costa. Desfaz também a teoria de que João Galamba foi o « mentor » do plano de tráfico de influências para beneficiar a Start Campus.

 

De acordo com o Expresso, o juiz de instrução da Operação Influencer decidiu rebater ponto por ponto o recurso do Ministério Público contra as medidas de coação decretadas aos arguidos do caso.

O magistrado lembra que a investigação em causa considera que os arguidos « recorreram aos serviços de Lacerda Machado » no sentido de « contactar o primeiro-ministro » para pressionar, por sua vez, « a secretária de Estado, Ana Fontoura Gouveia ».

Numa reunião entre os suspeitos, António Costa ou Vítor Escária teriam colocado « pressões » sobre a referida secretária de Estado, isto « necessariamente com o conhecimento e concordância do primeiro » [António Costa].

Na argumentação do MP, destaca o juiz, « os contactos encetados por Lacerda Machado junto de Vítor Escária e do primeiro-ministro visaram – e lograram – que um decreto-lei fosse aprovado e publicado o mais rapidamente possível e com o conteúdo normativo favorável aos interesses da Start Campus ».

No documento a que o semanário teve acesso, o juiz Nuno Dias Costa, que recusou a aplicar as medidas de coação propostas pelo Ministério Público, considera que « o alegado pelo Ministério Público revela-se vago quanto a qual seria a entidade pública junto de quem iria ser exercida a influência ».

Considera também que a « descrição factual » é « contraditória » porque alega, ao mesmo tempo, que « a atuação dos arguidos teve em vista pressionar a referida secretária de Estado » mas também que os contactos de Lacerda Machado « junto de Vítor Escária e do primeiro-ministro visaram – e lograram – que o referido decreto-lei fosse aprovado e publicado o mais rapidamente possível ».
Destaca ainda que a alegada pressão sobre a secretária de Estado ocorreu mesmo « sabendo-se que a competência para elaborar decretos-lei cabe ao Governo e não a uma secretária de Estado ».

Em relação a João Galamba, o juiz criticou o que diz ser uma « tese inovadora » de que seria o ex-ministro das Infraestruturas « o autor e verdadeiro mentor » do plano para beneficiar a empresa responsável pele construção do Data Center de Sines.

O magistrado considera que os factos descritos pelo Ministério Público apenas permitem concluir que o ex-ministro « pretendeu » que a Start Campus fosse « abrangida por um determinado regime legal em preparação ».

O MP « nunca » alega que João Galamba « sabia ou combinou » com Rui Neves e Tiago Silveira « no sentido de ser feito o que estes combinaram entre os dois ».

Juiz critica MP por recorrer de medidas de coação com novos factos 

O juiz de instrução da Operação Influencer criticou que, no recurso das medidas de coação aplicadas ao cinco arguidos, o Ministério Público invoque novos factos que não apresentou no primeiro interrogatório judicial.

Na resposta do juiz Nuno Dias Costa, a que a agência Lusa teve hoje acesso, ao recurso do MP para o tribunal da Relação a contestar as medidas de coação aplicadas aos arguidos, nenhuma privativa da liberdade, o magistrado alega que “o Ministério Público teve necessidade, para sustentar a sua posição, de invocar novos factos que não alegou na promoção de aplicação aos arguidos” de medida de coação diferente do termo de Identidade e Residência (TIR).

A operação levou à detenção do chefe de gabinete de António Costa, Vítor Escária, do advogado Diogo Lacerda Machado, dos administradores da empresa Start Campus Afonso Salema e Rui Oliveira Neves, e do presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas, que o juiz colocou em liberdade após o primeiro interrogatório judicial.

Além destes, há outros quatro arguidos no processo, incluindo o agora ex-ministro das Infraestruturas João Galamba, o presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, Nuno Lacasta, o advogado, antigo secretário de Estado da Justiça e ex-porta-voz do PS João Tiago Silveira e a empresa Start Campus.

O processo está relacionado com a exploração de lítio em Montalegre e de Boticas (ambos distrito de Vila Real), com a produção de energia a partir de hidrogénio em Sines, Setúbal, e com o projeto de construção de um centro de dados (Data Center) na zona industrial e logística de Sines pela sociedade Start Campus.

O primeiro-ministro, António Costa surgiu associado a este caso e foi alvo da abertura de um inquérito no MP junto do Supremo Tribunal de Justiça, situação que o levou a pedir a demissão e o Presidente da República marcou eleições para 10 de março.

 

Com Agência Lusa, RTP e Jornal Expresso.

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