Extrato de uma interessante entrevista do realizador Christophe Fonseca publicada pelo DN. Christophe Fonseca é, entre outros filmes, autor de um documentário sobre Amadeo de Souza-Cardoso.
Foto: Henriques da Cunha/Global Imagens in DN
Para 2019 está agendada a estreia de Além-Fronteiras, o filme-documentário que conta a história da emigração clandestina, de que é filho.
Que filme é este, o que conta sobre a emigração?
Entre todos os que já realizei será talvez o mais importante. Eu faço filmes desde a adolescência, como se fosse uma coisa vital.
Eu acho até que tem que ver com a minha própria envolvência no cinema. Esta história persegue-me desde a infância. E no filme eu conto como me aconteceu esse despertar para a realidade.
É um filme que se foca mais na viagem a salto, ou na forma como os portugueses viviam nos bairros de lata, nos anos 1960?
É a história do bairro de lata de Champigny – para onde o meu pai foi, nos anos 1960 – que era a plataforma da emigração portuguesa em França, de onde por vezes partiam para outros países da Europa. Mas sim, é também um filme sobre como se chegava lá.
Que foi uma história que começou a ouvir desde pequeno…
Sim, logo na infância. Grande parte da minha família e de amigos dela tiveram esse percurso: uma longa viagem, difícil. Mas os que chegavam lá mandaram ir os outros – aqui da aldeia, por exemplo.
E a ideia é contar qual era esse percurso e como era feito?
Quero contar também como é que fui descobrindo essa história, ao longo dos anos. As histórias da viagem a salto, no bairro de lata, só se contavam entre eles. Só se falava no assunto quando se juntavam, entre família ou amigos que tinham vivido a mesma história, e nunca a pessoas que não conheciam. Acontecia muitas vezes ao domingo, depois de almoço. Para mim, em criança, que ficava debaixo da mesa a ouvir, aquilo eram as minhas histórias de cowboys. Eles eram os meus heróis. Ouvir o meu pai e os meus familiares contar como eram perseguidos pelos carabineiros, como tinham de se esconder, as condições como chegavam ao bairro de lata, e a maneira como era difícil sobreviver lá.
Para uma criança era uma coisa fantástica.
Sim, era qualquer coisa que os meus amigos da escola não tinham!
E contava isso na escola?
Não, nunca. Era o nosso segredo. Eu percebi desde sempre que aquilo era a nossa história-segredo. E por isso foi crescendo o fascínio pelos meus heróis.
Uma entrevista para ler integralmente no DN.