Ozil deixa seleção alemã devido a « racismo »

O caso está a virar atenções para a forma como a Alemanha trata os turcos, a maior comunidade imigrante no país.

Foto: Lisi Niesner/Reuters

Mesut Ozil decidiu, este domingo, abandonar a seleção alemã devido ao « racismo e desrespeito » de que foi alvo, devido às suas raízes turcas.

Ozil enfrentou duras críticas da opinião pública alemã, depois de ter sido fotografado com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. As críticas surgiram também por parte do presidente da Federação Alemã de Futebol, Reinhard Grindel – que, segundo Ozil, o culpou pela eliminação da Alemanha neste Campeonato do Mundo de Futebol, disputado na Rússia.

« Eu não vou mais servir de bode expiatório para a incompetência de Grindel e a sua incapacidade fazer o seu trabalho », declarou o jogador, nas suas redes sociais, acrescentando que só foi defendido pelo treinador da seleção alemã, Joachim Low, e pelo diretor-desportivo Oliver Bierhoff.

« Aos olhos de Grindel e dos seus apoiantes, eu sou alemão quando ganhamos, mas sou imigrante quando perdemos », disse Ozil. « Continuo a não ser aceite na sociedade, a ser tratado como ‘diferente' », lamentou.

Cem Ozdemir, antigo líder dos « Verdes » alemães e o mais destacado político de origem turca na Alemanha, afirmou que será difícil que Grindel possa continuar à frente da Federação Alemã de Futebol, dada a diversidade étnica que existe na Alemanha e na sua seleção de futebol.

« Ele [Grindel] não reflete a amplitude do futebol na Alemanha e, portanto, será difícil para os turcos alemães, ou mesmo para os croatas alemães, sentir que a Federação Alemã de Futebol também é deles », criticou Cem Ozdemir, em entrevista à rádio Deutschlandfunk.

« Erros de comunicação significam que aconteceu algo que nunca deveria acontecer aos imigrantes: eles nunca devem sentir-se como alemães de segunda classe », disse o ex-presidente da Federação Alemã de Futebol, Theo Zwanzige. « A renúncia de Ozil é um grande revés para os esforços de integração além do futebol no nosso país », acrescentou.

Na sequência da polémica, o Governo de Merkel já veio declarar publicamente, esta segunda-feira, que a maioria dos 3 milhões de descendentes turcos que vivem na Turquia estão bem integrados na comunidade e que Ozil é valorizado pela governante alemã.

O debate político intensificou-se, na sequência dos dados que revelam um crescimento da extrema-direita na Alemanha, à custa dos partidos tradicionais, com efeitos na imigração no país.

O anúncio de Ozil nas redes sociais tem sido acusado, pelos media alemães, de « autocomiseração ». Mesmo o político turco que o defendeu, Ozdemir, afirmou que o jogador foi « ingénuo » e que a sua saída da seleção alemã só traz boas notícias para « Erdogan, a AfD [Alternativa para a Alemanha, partido de extrema-direita alemão] e para todos aqueles que são contra a diversidade ».

A saída de Ozil está já a ser usada pela AfD como argumento contra a imigração. « A integração [dos migrantes] não resulta nem sequer com futebolistas milionários », afirmou a líder do partido de extrema-direita, Alice Weidel, que aponta o caso do jogador de futebol como um « típico exemplo de integração falhada ».

Já na Turquia, a decisão de Ozil tem recebidos elogios por parte do Governo turco. « Apoiamos, do fundo do coração, a postura honrosa demonstrada pelo nosso irmão Mesut Ozil », afirmou o ministro do Desporto turco, Mehmet Kasapoglu.

https://twitter.com/kasapoglu/status/1021136231348998144

Também o conselheiro do presidente Erdogan, Gulnur Aybet, afirmou que a forma como Ozil foi tratado é « imperdoável ». « Não há desculpa para o racismo e a discriminação », publicou no Twitter.

 

Alfa/TSF

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