Panteonização do antigo ministro Robert Badinter que aboliu a pena de morte

Robert Badinter entrará no Panteão dentro de seis meses, em homenagem ao seu papel na abolição da pena de morte. Um símbolo com um triplo poder num momento em que a justiça é atacada, a democracia enfraquecida e criticada, e o antissemitismo em pleno ressurgimento.

A entrada de Robert Badinter no Panteão terá lugar dentro de seis meses, no dia 9 de outubro, uma data simbólica. É o aniversário da promulgação da lei que aboliu a pena de morte, a 9 de outubro de 1981, há 44 anos. Uma reforma conduzida pelo advogado que se tornou ministro da Justiça e que fez com que a França entrasse na era das democracias modernas.

Emmanuel Macron abriu caminho para esta panheonização no ano passado, poucos dias após o falecimento de Robert Badinter. Mas o anúncio feito esta terça-feira ganha um eco particularmente forte. Quarenta e oito horas antes, Marine Le Pen bradava numa praça de Paris contra « a tirania dos juízes », acusados de ter tomado uma « decisão política » que « desrespeita o Estado de direito » e « o Estado democrático ». Ao exortar os militantes da Reunião Nacional a revoltar-se contra um « sistema » que teria « ativado a bomba nuclear » para « a fazer calar », a líder da extrema-direita seguia as pegadas do seu pai.

Ele próprio já tinha sido alvo de manifestações, nomeadamente na Place Vendôme, mesmo em frente ao Ministério da Justiça. Corria o ano de 1983, quando Jean-Marie Le Pen, em coro com algumas centenas de polícias indignados, gritava: « Badinter assassino! », « Badinter para Moscovo! ». O fundador da Frente Nacional chamava-lhe « o advogado dos assassinos » ou « o ministro da delinquência », enquanto a imprensa de extrema-direita o cobria de insultos, muitas vezes de teor antissemita, após cada crime violento. O homem que aboliu a pena de morte, descriminalizou a homossexualidade e encerrou os bairros de alta segurança nas prisões, foi alvo da extrema-direita durante décadas. E Marine Le Pen manteve viva essa chama anti-Badinter ao defender o restabelecimento da pena de morte até 2017. O antigo ministro da Justiça não tinha ilusões: « Jogar a carta da segurança é politicamente rentável. Há sempre alguém, como Marine Le Pen, para ir mais longe. A demagogia escorre… », escreveu ele sobre ela, em 2011. Isso não impediu Marine Le Pen de tentar, em vão, intrometer-se na homenagem realizada no ano passado.

Assim, esta cerimónia terá uma forte carga política — talvez ainda mais do que o habitual. Porque Robert Badinter foi também presidente do Conselho Constitucional, esse juiz supremo cada vez mais contestado pelos populistas de todos os quadrantes. Grande defensor da laicidade e crítico feroz do crescimento dos comunitarismos, ele é, por fim, a personificação da luta contra o antissemitismo, esse flagelo que ressurgiu com força no próprio coração da França. Em suma, uma certa ideia da República — a defender e a promover sem descanso. Tal como o grande historiador e resistente Marc Bloch, que se juntará também a este templo laico alguns meses depois, a 16 de junho de 2026, data do 82.º aniversário do seu assassinato pelos nazis.

Rádio Alfa

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