Papa pede perdão e considera « genocídio » os internatos forçados de crianças índias no Canadá durante um século

Papa pede perdão e considera « genocídio » os internatos forçados de crianças índias no Canadá entre o final do séc. XIX e os anos 90.

 

Alfa/ com Lusa (adaptação Alfa)

O Papa Francisco considerou este sábado que os internatos de crianças índias no Canadá foram ”um genocídio” e admitiu, em declarações à imprensa, que não pode mais viajar a este ritmo devido aos seus problemas de saúde.

Foi durante uma conferência de imprensa a bordo do avião na viagem de regresso a Roma, depois de seis dias de visita ao Canadá, onde o Papa Francisco pediu perdão às populações nativas americanas e considerou que os internatos compulsivos de crianças índias no Canadá, geridos sobretudo pela Igreja Católica, equivaleram a um « genocídio ».

« Não disse a palavra [durante a viagem] porque não me veio à mente, mas descrevi o genocídio. E pedi desculpas, pedi perdão por esse processo que é genocídio », disse o Papa.

E acrescentou ainda o soberano pontífice argentino em referência aos internatos para crianças indígenas (Primeiras Nações, Métis e Inuit) estabelecidos no Canadá entre o final do século XIX e a década de 1990: « Raptar crianças, mudar a cultura, mudar a mentalidade, mudar as tradições, mudar uma raça, digamos assim, toda uma cultura. »

E sobre isto insistiu: « Sim, genocídio, é uma palavra técnica. Não usei porque não me ocorreu. Mas descrevi o que, é verdade, é genocídio. »

O Papa Francisco, de 85 anos, acometido por fortes dores no joelho que o obrigaram a deslocar-se numa cadeira de rodas, confidenciou aos jornalistas que « não pode mais viajar » ao mesmo ritmo de antes, mencionando também a possibilidade de « colocar-se de lado ».

« Não acredito que possa manter o mesmo ritmo de viagem de antes. Acredito que na minha idade, e com esses limites, devo poupar-me para poder servir a Igreja, ou, pelo contrário, pensar na possibilidade de me colocar de lado », disse.

O Papa considerou que a possibilidade de renunciar, tal como o seu antecessor Bento XVI, “não é um desastre” e repetiu que a porta estava « aberta ».

« Mas até hoje eu não empurrei essa porta. Como dizem, eu não senti isso, para pensar nessa possibilidade. Mas isso não significa que depois de amanhã eu não vou começar a pensar nisso”, disse.

Francisco também renovou o seu desejo de ir a Kiev, sem maiores detalhes, e confirmou o plano de viajar até ao Cazaquistão em setembro, para participar num encontro de líderes religiosos.

Indicou ainda que iria visitar o Sudão do Sul “antes” de ir à República Democrática do Congo (RDC), viagens adiadas por tempo indeterminado devido ao seu estado de saúde.

Durante esta visita de seis dias, o papa, de 85 anos, apareceu enfraquecido, mas mesmo assim cumprimentou a multidão a bordo do “papamóvel”.

O papa pediu « perdão » em várias ocasiões pelo papel desempenhado por « muitos cristãos » nesse sistema de aculturação de crianças índias, montado no Canadá pelos governos da época, mas administrado principalmente pela Igreja Católica.

Recorde-se que entre o final do século XIX e os anos 90, cerca de 150.000 crianças indígenas foram recrutadas à força para mais de 130 destas instituições. Aí foram isolados das famílias, da língua e cultura, e foram frequentemente vítimas de violência. Pelo menos 6.000 crianças morreram nestas instituições.

Questionado sobre a « Doutrina da Descoberta », os éditos papais do século XV que autorizavam as potências europeias a colonizar terras e povos não cristãos, o papa considerou essa doutrina da colonização « errada » e « injusta ».

« Essa mentalidade de que somos superiores e os nativos não importam é grave. Para isso, temos que trabalhar nesse sentido. Voltar e limpar tudo o que foi mal feito, mas percebendo que hoje também há o mesmo colonialismo”, respondeu.

No Quebeque e em Iqaluit, no arquipélago ártico, os nativos canadianos exibiram cartazes e faixas durante os encontros com o Papa para pedir a “revogação” dessa doutrina.

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