Paris homenageia Mário Soares com um jardim e uma placa comemorativa

A próxima reunião do Conselho de Paris, marcada para os dias 16 a 19 de dezembro, terá em agenda duas iniciativas destinadas a homenagear Mário Soares: atribuir o nome do antigo Presidente da República portuguesa a um jardim da capital francesa e instalar uma placa comemorativa na rua onde viveu.

Estas propostas figuram na ordem de trabalhos da sessão, durante a qual os conselheiros municipais — que se reúnem entre quatro e dez vezes por ano — analisam, discutem e votam centenas de medidas submetidas ao órgão.

O futuro Jardim Mário Soares será criado no 20.º bairro, na rua Pixérécourt (n.º 50). A defesa da proposta caberá aos adjuntos da Câmara Laurence Patrice (Memória e Antigos Combatentes), Arnaud Ngatcha (Europa, Relações Internacionais e Francofonia) e Christophe Najdovski (Vegetalização e Biodiversidade). O texto submetido a votação sublinha que se trata de homenagear “uma personalidade central da democracia portuguesa e da construção europeia”.

Recorda-se que Mário Soares, nascido em Lisboa em 1924, se envolveu desde jovem na resistência à ditadura. Formado em Direito em 1957, dedicou-se a defender presos políticos, sofrendo perseguições, prisões e sendo deportado para São Tomé em 1968. Forçado posteriormente ao exílio, instalou-se em Paris em 1970, onde ensinou em Vincennes e, mais tarde, em Rennes, construindo relações fortes com meios académicos e políticos franceses. Durante este período, a Ação Socialista Portuguesa — criada em 1964 — evoluiu para o Partido Socialista, formalizado em 1973.

Depois da Revolução dos Cravos, regressou ao país e assumiu a pasta dos Negócios Estrangeiros, papel crucial na descolonização e na afirmação internacional do novo regime. Contribuiu para a vitória do PS nas primeiras eleições livres, em 1976, e exerceu o cargo de Primeiro-Ministro entre 1976-1978 e 1983-1985, impulsionando a modernização do país e iniciando as negociações que culminariam na adesão à Comunidade Económica Europeia em 1986. Nesse mesmo ano, foi eleito Presidente da República, função que desempenhou até 1996, sendo o primeiro chefe de Estado civil após seis décadas e um símbolo de estabilidade democrática.

Os responsáveis parisienses lembram ainda que a estadia de Soares em Paris foi decisiva: encontrou ali refúgio, apoio e uma ampla rede de contactos, reforçando os laços entre França e Portugal. Faleceu em Lisboa, em janeiro de 2017. O jardim que agora receberá o seu nome, inaugurado em 1984, ocupa cerca de 1.500 m² e permanece sem designação oficial desde então.

A segunda iniciativa diz respeito à instalação de uma placa comemorativa no n.º 17 do boulevard Garibaldi, no 15.º bairro, local onde Mário Soares viveu durante o exílio, apesar de o edifício atual ser de construção posterior. A proposta, apresentada por Laurence Patrice, pretende assinalar a ligação do estadista à cidade e sublinhar os laços de amizade entre franceses e portugueses.

Patrice destaca que Soares foi uma referência fundamental da oposição aos regimes de Salazar e Marcelo Caetano. Durante o exílio parisiense, manteve contactos frequentes com personalidades políticas estrangeiras, incluindo François Mitterrand. A boa relação que sempre teve com França valeu-lhe vários reconhecimentos, entre os quais a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito e a Légion d’Honneur, além da integração no Alto Conselho da Francofonia.

Estas propostas serão agora submetidas à votação do Conselho de Paris.

Rádio Alfa com LusoJornal

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