Paris2024: A incerteza política é só mais uma preocupação nuns Jogos problemáticos
A agitação política em França é apenas mais um problema que as delegações olímpicas vão encontrar em Paris2024, aliada às dificuldades de mobilidade, aos receios de segurança e à presença de russos e bielorrussos, ainda que sob bandeira neutra.
Apesar dos efeitos da pandemia de covid-19 e da inflação, o orçamento de Paris2024 não derrapou, mas apenas porque não foram cumpridas promessas como os transportes gratuitos para aqueles que viajassem para os Jogos, com o preço dos bilhetes inclusive a disparar e a motivar tantas ou mais críticas do que os dos ingressos para as competições.
A todas elas, a organização respondeu com argúcia, alegando, no primeiro caso, que o objetivo é evitar visitantes sem ser os dos Jogos, e, no segundo, que houve muitos bilhetes baratos, sem nunca referir que aqueles eram para as provas menos concorridas – os preços dos da cerimónia de abertura chegaram aos 2.700 euros e os das eliminatórias do atletismo aos 690, por exemplo.
As autoridades francesas pediram aos parisienses para tirarem férias e saírem de Paris no período dos Jogos Olímpicos e, caso não fosse possível, optarem pelo teletrabalho e por deslocações desfasadas dos principais momentos de Paris2024.
Mas os problemas não se esgotam aí: estão previstas greves gerais, bloqueios, o preço dos alojamentos disparou, ao ponto da capital parisiense ser mais cara do que Tóquio, famosa pelos seus preços exorbitantes.
Há receios também quanto à segurança, quer quanto à pequena criminalidade quanto a eventuais atentados, numa altura em que há dois conflitos armados com impacto mundial e que Rússia e Bielorrússia não estarão representadas enquanto nações, mas sim com atletas individuais (não apoiantes da invasão da Ucrânia) sob bandeira neutra.
“Não há nenhuma ameaça identificada à segurança dos Jogos Olímpicos”, disse recentemente numa entrevista o ministro do Interior, Gérald Darmanin.
No entanto, o centro de Paris está blindado’ e só acessível através de acreditação ou QR Code – quem não tiver telemóvel ou estiver sem bateria, como faz?
As restrições à liberdade de movimentos desagradam os parisienses, com cenas de revolta a serem partilhadas diariamente nas redes sociais, o mesmo veículo escolhido por turistas para expressar a desilusão por não poderem visitar sítios emblemáticos da ‘Cidade Luz’, agora repleta de barreiras metálicas depois de, ainda há poucas semanas, estar transformada num ‘estaleiro’ de obras – o impacto no comércio local já se fez sentir, com os comerciantes a queixarem-se de uma “baixa de atividade e de frequência inéditas” neste período do ano.
São precisamente os acessos, e mais especificamente a mobilidade, a maior das preocupações das delegações, com os comités olímpicos nacionais a ignoraram a sugestão do Comité Organizador para que viajassem de transportes públicos, depois de perceberem algo denunciado inclusive pelas autoridades locais: a frequência e o número de transportes, nomeadamente de metro e comboios, não é suficiente.
“As deslocações para os locais das competições, a mobilidade dentro da própria cidade… tudo isso me preocupa. Mas eu acho que me preocupa mais a mim do que aos franceses e aos organizadores, que têm soluções para tudo, e oxalá tenham razão e que as minhas dúvidas não tenham motivo para existir”, realçou, em entrevista à agência Lusa, o presidente do Comité Olímpico de Portugal, José Manuel Constantino.
A todas as críticas e apreensões suscitadas pelas delegações nacionais, o Comité Organizador e as autoridades francesas responderam sempre com a mesma displicência, mantendo-se firmes nas suas convicções, nomeadamente ao insistirem que o Rio Sena seria palco das provas de natação em águas abertas e no setor de natação do triatlo.
Embora análises recentes tenham revelado melhorias na qualidade da água do rio, onde não se pode nadar desde 1923, a perspetiva de trovoadas e chuva durante esta semana pode aumentar o seu caudal e, consequentemente, o nível de poluição.
“Todos os indicadores dão luz verde ao Sena”, palco também da cerimónia de abertura, a primeira fora de um estádio e ao final da tarde, garantiu o presidente do Comité Organizador, Tony Estanguet
Será precisamente essa cerimónia que inaugurará, na sexta-feira, os Jogos Olímpicos Paris2024, que vão decorrer, com mais ou menos sobressaltos, até 11 de agosto.
Alfa/ com Lusa