Paris2024: Chefe de missão elege transportes e segurança como maiores desafios
Marco Alves falou à Lusa dias depois de regressar da capital francesa, onde, a um ano do arranque dos Jogos Olímpicos, agendados entre 26 de julho e 11 de agosto de 2024, os chefes de missão de cada país se encontraram num seminário para conhecer o progresso dos preparativos, com a mensagem passada pelo comité organizador e pelo Comité Olímpico Internacional (COI) a ser “de confiança” e de que tudo decorre “a tempo”.
“A cidade de Paris é a cidade de Paris, isso não vai mudar. A magia que a cidade vai trazer para os Jogos não é só magia, vai trazer também alguns desafios. Nomeadamente, o trânsito é o principal tema que aparece em cada uma das discussões. E há aqui algumas estratégias para poder mitigar esses constrangimentos que vão acontecer durante os Jogos, que foram-nos apresentadas, como a utilização da rede de transportes públicos, a própria organização das instalações de uma forma, em termos de ‘clusters’, que possa permitir a utilização de menos transportes, para levar mais atletas”, revelou.
Os meios de deslocação em Paris são, segundo o chefe de missão, a grande dor de cabeça não só da delegação portuguesa, mas da maioria das nações, que, embora partilhem da sensibilidade da organização e do COI para a utilização dos transportes públicos, estão apreensivas.
“Pode ser uma solução para a cidade de Paris – que, efetivamente, está bem fornecida de transportes públicos, nomeadamente a sua rede de metro – para os treinos. […] Para os dias de competições, foi unanimemente declarado que isso não vai acontecer, porque nós próprios andámos de transportes públicos durante a realização do seminário dos chefes de missão, e há sempre paragens no metro, há sempre atrasos, há sempre linhas que estão a funcionar melhor do que outras, e não podemos correr o risco de um atleta não chegar a horas à sua competição”, alertou.
Portanto, nos dias das competições, a utilização de transportes públicos “não vai ser uma realidade”, tendo isso sido “ponto assente por parte dos comités olímpicos nacionais”, garantiu.
Marco Alves, que já foi o chefe de missão a Tóquio2020, não escondeu também alguma preocupação quanto à segurança dos Jogos Olímpicos, depois de, nas últimas semanas, França ter vivido vários episódios de violência, após o jovem Nahel ter sido morto a tiro por um polícia a 27 de junho, perto de Paris, durante um controlo de trânsito.
“Eu creio que [os episódios de violência] se vão repetir, infelizmente. Não posso ser mais transparente do que isto: nós tínhamos, inclusive, durante o seminário, uma visita a Nanterre. Tínhamos recebido um contacto do campus universitário na perspetiva de poder garantir algum apoio em termos de alojamento para a nossa equipa e cancelámos essa visita. Exatamente por algum receio, da minha parte – não escondo isso -, de visitarmos um local onde, efetivamente, as coisas não estão pacificadas. E isso é a realidade de Paris”, contou.
Infelizmente, segundo o responsável olímpico, “os parisienses já se habituaram a viver com isto”. “Os protestos, as greves, já são uma coisa que faz parte do seu dia-a-dia. Portanto, eles estão muito habituados a isto. Da mesma forma como os serviços de segurança pública, polícias e militares também estão muito habituados”, realçou.
“Portanto, por um lado, sim preocupados, mas, por um lado, também, de alguma forma, descansados pela experiência que eles já têm – infelizmente, volto a dizer – destes contextos, destes cenários que recorrentemente acontecem na cidade de Paris”, completou.
Outra das ‘inquietações’ dos comités olímpicos nacionais é a cerimónia de abertura, que, pela primeira vez, sai de um estádio para se abrir à cidade que acolhe os Jogos, decorrendo em pleno rio Sena.
“Será, em si só, um próprio desafio. Sim, eu diria que Paris traz muitas novidades aos Jogos, em termos de organização. E um dos pináculos é, sem dúvida, a cerimónia de abertura. O facto de poderem permitir uma quantidade de espetadores completamente diferente daquilo que acontece num estádio, garante logo um envolvimento da cidade com os Jogos completamente diferente do que aconteceu no passado. E isso é, sem dúvida, um marco que estes Jogos vão deixar”, enalteceu.
No entanto, essas “condições singulares”, de haver “um rio a atravessar a cidade e poder haver este momento para fazer desfilar os atletas”, implicam “um perímetro de segurança muito difícil de garantir”.
“E há muitas preocupações. Portugal é um país pacífico, não nos esqueçamos disso. Não temos grandes confusões, para ser muito simplista, com outros países. Mas há outros países que não têm [a mesma condição] tradicionalmente pela história que os acompanha em edições de Jogos, e que, efetivamente, mostram essa preocupação daquilo que é a garantia do perímetro de segurança para aqueles que vão desfilar na cerimónia de abertura. Fala-se, inclusive, de como é que eles vão ‘segurar’ a água”, detalhou.
Não é só o perímetro onde as pessoas vão estar a assistir à cerimónia de abertura de Paris2024 ao longo do Sena e nas artérias que aí desembocam que preocupa as delegações, mas também como é que os franceses vão garantir “que nada está dentro do rio que possa comprometer a segurança deste evento”.
“Agora, vamos esperar que a magia dos Jogos, a trégua olímpica, traga, efetivamente, alguma paz à cidade e que se possa, em Paris, assistir a uma cerimónia de abertura singular, como nunca aconteceu em contexto de Jogos Olímpicos”, concluiu.