Paris é hoje uma cidade imprópria para turistas, dececionados pela dificuldade de acesso a alguns dos postais da capital, e mesmo para os parisienses, cujo quotidiano se perde entre as ‘barreiras’ dos Jogos Olímpicos.
A capital francesa é, por estes dias, o epicentro desportivo mundial, uma realidade que transformou Paris numa sucessão de barreiras, baias e cordões de segurança, incompatíveis (ou quase) com memórias fotográficas dos monumentos mais emblemáticos da sede dos Jogos Olímpicos e com passeios tranquilos, em família ou não.
Esta não é a Paris de sempre, sobretudo junto à Torre Eiffel: saindo na estação de Bir-Hakeim, a polícia que não se vê noutros lugares mais afastados dos recintos é quase tanta como os turistas, com as ruas mais vazias do que o habitual, praticamente sem carros ou veículos, à exceção de bicicletas, as únicas que cruzam tranquilamente as largas avenidas.
Onde os carros não passam, há patrulhas a cavalo, agentes que andam aos 10, coabitando pacificamente com as esplanadas ainda cheias, mas às quais, em alguns locais, só se acede através de código QR.
As fitas vermelhas e brancas multiplicam-se de dia para dia, assim como as estradas cortadas. Ainda há corajosos em filas diante da Torre Eiffel, identificados com camisolas, bandeiras dos seus países, embora as regras mudem de um dia para outro, sendo mesmo obrigatório descarregar um bilhete gratuito para entrar nos jardins que rodeiam o local – mas nem todos os voluntários se preocupam com essa nova imposição, deixando as pessoas entrar sem controlo.
É o imponente símbolo parisiense que todos procuram, testando ângulos ideais para as fotos, poses e até acessórios, havendo mesmo quem se muna de uma baguete ou do seu melhor ‘outfit’ para tornar a recordação ainda melhor, sob a vigilância atenta de helicópteros, que podem mesmo ascender a três em simultâneo naquele local.
Seguindo pela cidade, entre os edifícios ou ao longo do Sena, as cores de Paris2024 estão um pouco por todo o lado — ao contrário da polícia, pouco ou nada visível em zonas mais recuadas relativamente aos locais de competição -, como se um imenso papel de embrulho envolvesse a cidade, ou pelo menos aqueles que são os seus pontos de referência.
A beleza do Grand Palais, por exemplo, está escondida atrás de um muro de metal, com a magia de Paris ofuscada por inestéticas proteções metalizadas. Ali, ninguém pode entrar a não ser munido de acreditação ou bilhete para as provas, uma interdição extensível a outros locais.
Por exemplo, quem quiser visitar o jardim de Tuileries terá de regressar em setembro e o Louvre só mesmo com marcação prévia, à exceção dos dias 25 e 26 de julho, em que o famoso museu está encerrado ao público.
Apesar de bem identificados, os caminhos dos Jogos são quase sempre confusos e resultam em becos sem saída. A mesma confusão estende-se aos voluntários, que até levam jornalistas pelos bastidores do imponente palco da esgrima, ainda a ser montado, num atraso que não é exclusivo ao Grand Palais.
As acreditações dos media também não são um processo fácil: supostamente passíveis de serem validadas no Aeroporto Charles de Gaulle, sofreram alterações e, por falta de impressora, só puderam ser validadas nos centros de imprensa, onde a internet pode nem sempre funcionar e até há cortes de eletricidade.
Durante o dia, mas sobretudo à noite, um ‘comboio’ de segurança passa periodicamente para mostrar que existe, inundando as artérias da cidade de sirenes que ressoam durante largos segundos.
Mas a escuridão disfarça os engarrafamentos em horas de ponta, as vias cortadas que dificultam os acessos aos hospitais, as dificuldades dos taxistas que não sabem quando e onde podem passar, confiando na sorte de encontrarem um agente da autoridade compreensivo ou não.
Também com os voluntários é preciso ter-se sorte, com a maioria a ser extremamente prestável, embora muitas vezes sem informações precisas, e com uma minoria a ser intransigente, até quando o azar bate à porta dos mais desatentos.
São estes os Jogos Olímpicos complexos e ‘desorganizados’ que a França tem para oferecer ao mundo, com o início oficial marcado para sexta-feira e o final para 11 de agosto.
Com Agência Lusa.