Extratos de uma entrevista do bispo D. José Ornelas, Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, ao Expresso:
(…)
Afirmou que serão os próprios padres condenados a ter de pagar indemnizações às vítimas. A Igreja não deveria ter o dever moral de avançar com essas indemnizações?
Nós não abandonaremos nunca uma vítima que foi abusada na Igreja. E vamos dar todas as condições para que ela se possa reabilitar.
Isso significa o quê?
Significa que se essa pessoa tem necessidade terá direito, por exemplo, a tratamento psiquiátrico, psicológico. Terá de ser a pessoa a escolher esse especialista. A Igreja pagará os tratamentos. A pessoa apresenta a fatura e nós pagamos. Há já casos desses que estão a acontecer. Não esquecemos a responsabilidade moral que começa com apoio à reabilitação da pessoa.
E as indemnizações em dinheiro?
A responsabilidade legal de indemnizar está com quem causou o dano a estas pessoas. E não vou estabelecer um teto, ou um preço, para a dor de ninguém. Isso tem de ser dialogado com cada pessoa.
Considera, como D. Manuel Clemente, que o pagamento de indemnizações poderia ser um insulto para as vítimas?
Não é um insulto. O que penso é que eu não vou pôr um preço ao sofrimento. Isso, não.
Mas a Igreja vai ou não vai indemnizar as vítimas de abusos? Nos EUA a Igreja indemnizou. Na Irlanda, também, depois de uma decisão do tribunal.
Esta questão só tem sentido tratá-la com as vítimas e com os seus representantes.
Está a dizer que a Igreja não vai indemnizar as vítimas?
Vamos dialogar com as pessoas.
Mas admite pagar indemnizações a quem peça?
As pessoas que precisarem de ajuda vão tê-la.