A primeira-ministra francesa, Elisabeth Borne, enfrentou hoje protestos da oposição na apresentação das linhas gerais das prioridades do seu Governo perante a Assembleia Nacional, manifestando-se disposta a « construir » apesar de uma moção de censura apresentada pela esquerda.
A líder do Governo francês admitiu que não há acordo para uma governação estável, sem hipótese de coligações para a força do Presidente, Emmanuel Macron, que tem agora uma maioria relativa no Parlamento, mas que vai constituir « uma maioria de projetos », dizendo ser uma mulher pronta a « construir a França ».
A primeira-ministra disse que « o Estado vai voltar a deter 100% do capital da EDF », empresa nacional de eletricidade, definindo a meta de que a França seja a primeira potência mundial a deixar de utilizar os combustíveis fósseis.
Tal como o Presidente tinha prometido na campanha das eleições presidenciais, a taxa do audiovisual vai deixar de existir até ao final deste ano, disse ainda.
Entre as prioridades para os próximos cinco anos estão ainda as melhorias do poder de compra dos franceses, com Borne a dizer que vai começar uma consulta com os sindicatos, apostando no pleno emprego.
Tal como o Presidente Macron já tinha sugerido, Borne disse que a infância estará também na linha da frente, com 200 mil novas vagas nas creches até 2027.
Após vários escândalos no setor dos lares para idosos, a primeira-ministra assegurou ainda mais apoios aos mais idosos, assim como às pessoas com deficiência.
Uma vez que a primeira-ministra, ao contrário do que acontece tradicionalmente em França, não pediu um voto de confiança aos deputados, a esquerda já tinha apresentado uma moção de censura mesmo antes de proferir o seu discurso no hemiciclo.
« Eu não correspondo, talvez, ao retrato `robot` que certas pessoas esperavam », disse a primeira-ministra.
« Calha bem, vivemos uma situação inédita. Não tenho o complexo de mulher providencial. Fui engenheira, trabalhei numa empresa, fui governadora civil e ministra. O meu percurso seguiu apenas uma direção: servir. Só tenho uma bússola, construir o meu país », adiantou.
O discurso da ministra aconteceu sob fortes protestos da oposição, com a presidente da Assembleia Nacional recém-eleita, Yaël Braun-Pivet, a ter de pedir vários vezes aos deputados para se acalmarem.
No entanto, não é a primeira vez que um Governo começa um mandato sem voto de confiança, já que, perante outras maiorias frágeis, outros primeiros-ministros como Pierre Bérégovoy em 1992, Édith Cresson em 1991 ou Michel Rocard em 1988 fizeram a mesma escolha.
A moção de censura apresentada hoje pela coligação de esquerda Nova União Popular Ecológica e Social (NUPES) deverá ser discutida na sexta-feira ou no início da próxima semana, não tendo para já o apoio da direita nem da extrema-direita, o que inviabiliza a queda do Governo, já que seria necessária uma maioria absoluta de 289 deputados.
Com Agência Lusa.