Portugal corre o risco de não conseguir responder a um ressurgimento de casos de covid-19 no Inverno

Portugal devia estar a preparar-se para enfrentar a disseminação da covid-19 no Inverno

Presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia, reclama reforço das unidades de saúde pública para preparar a resposta à chegada dos meses mais frios, em que a gripe se misturará com a covid-19.

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Serviço Nacional de Saúde deveria estar já a preparar-se para aumento da afluência nos meses de Inverno em que coronavírus e gripe se irão misturar DANIEL ROCHA (ARQUIVO)

Portugal corre o risco de não conseguir responder a um ressurgimento de casos de covid-19 no Inverno, afirmou este sábado o médico de Saúde Pública Ricardo Mexia, considerando que o país não pode chegar a essa altura como está hoje.

“Já tivemos algum tempo para nos prepararmos depois daquele embate inicial”, em que se evitou o crescimento exponencial de casos que se verificou em países como Espanha, mas, “do ponto de vista de preparação dos recursos, não houve verdadeiramente um planeamento e os problemas que enfrentamos na região de Lisboa e Vale do Tejo estão, por demais, à vista”, afirmou Ricardo Mexia em declarações à agência Lusa.

“É importante que consigamos reduzir a disseminação da doença no país. Se quando chegar o Inverno estivermos neste patamar, a possibilidade de as coisas entrarem num crescimento ainda mais difícil de controlar é real”, alertou.

Ricardo Mexia afirmou estar “surpreendido por não haver mais medidas de reforço das unidades de saúde pública”. Porém, admitiu que tal reforço possa constar da preparação do próximo ano lectivo e dos meses de Outono que se seguem e que coincidem com o início da época da gripe sazonal. Será a primeira vez que a gripe sazonal coincide com a covid-19 e a época de vacinação da gripe deverá começar mais cedo, sobretudo no que diz respeito aos profissionais de saúde, defendeu. Os sintomas de covid-19 e da gripe são “semelhantes numa fase inicial”, salientou, afirmando que “provavelmente, torna-se difícil destrinçar” entre casos de uma e de outra, se não houver reforço dos diagnósticos laboratoriais.

Por outro lado, as medidas adoptadas por toda a sociedade para prevenir a covid-19 (higiene das mãos, uso de máscara, etiqueta respiratória) “também são úteis para reduzir a disseminação da gripe e, portanto, poderá haver uma vantagem nesse sentido”.

“Se conseguirmos antecipar a época de vacinação da gripe e assegurarmos que a cobertura é mais alargada, particularmente no que diz respeito aos profissionais de saúde, podemos até ter uma época de gripe mais ligeira”, considerou Ricardo Mexia, indicando que isso seria útil para não colocar o sistema de saúde “em maiores dificuldades” por ter também que lidar com “o previsível número de casos de covid-19”.

Mas o melhor, defende, é que todos se preparem “para um inverno um pouco mais severo, no sentido de haver, eventualmente, um maior número de casos” de covid-19. Tal passa por Portugal conseguir “identificar rapidamente os casos, ter diagnóstico laboratorial disponível” suficiente e rápido, capacidade de isolar casos e colocar contactos em quarentena, ter oferta de ventiladores e camas de cuidados intensivos.

Ricardo Mexia aponta “adaptação” como uma palavra chave para o próximo Outono e Inverno: “A minha expectativa é que agora, com o tempo, com mais recursos para programar essa nova realidade, se consiga ter as coisas mais bem preparadas para o Inverno”, declarou. Mantendo em algum grau o teletrabalho e as aulas à distância, poder-se-á “reduzir a probabilidade de disseminação da doença e também reduzir a necessidade de medidas mais drásticas mais generalizadas”, afirmou.

Nas escolas, “as aulas terão que ser adaptadas” e, sendo “difícil cumprir o distanciamento físico em salas de aula que, já de si, não são normalmente muito grandes, se não se conseguirem desdobrar as turmas, é possível que não se consiga” o distanciamento físico de um metro entre alunos apontado pela Direcção Geral da Saúde como mínimo, notou.

A pandemia de covid-19 já provocou mais de 560 mil mortos e infectou mais de 12,52 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 1.654 pessoas das 46.221 confirmadas como infectadas, de acordo com o boletim mais recente da Direcção-Geral da Saúde.

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