Alfa
Pelo menos 4815 crianças abusadas no seio da Igreja portuguesa.
Segundo a Comissão Independente, o número “absolutamente mínimo” de crianças abusadas é de 4815. Foram validados 512 testemunhos.
Extratos do relatório final da Comissão:
« Habitualmente, são as vítimas a iniciar o silenciamento, por sentimentos de medo, vergonha e culpa. Os que revelam as situações são uma expressiva minoria »
(…)
« O perfil dos abusadores é variado. Predominam adultos jovens com
estruturas psicopatológicas, agravadas por fatores de risco como o alcoolismo ou o mau
controlo de impulsos. Destacam-se as perturbações de personalidade, com facetas
socialmente integradas, revelando capacidade de sedução e manipulação »
(…)
Abusados:
« Predomina o género masculino, num total de 57,2% dos casos, sobre 42,2% do feminino (o que, numa ótica comparativa com estudos similares, é uma percentagem muito alta); a idade atual média desta população é de 52,4 anos; 88,5% das vítimas vivem em território nacional, mas chegaram também testemunhos de pessoas que vivem agora na Europa Ocidental, continentes americano e africano; em Portugal, os cinco distritos com mais depoentes são, por ordem decrescente: Lisboa, Porto, Braga, Setúbal e Leiria; 53% da população participante é católica, 25,8% de praticantes; 40,9% são casados e 60% têm filhos (média de 1,99 por casal); 32,4% dos respondentes são licenciados, 12,9% possuem mestrado; as profissões dominantes são as de «especialistas de áreas intelectuais e científicas», o que comprova a natureza enviesada da amostra.
Ao tempo do primeiro abuso, 58,6% das crianças vítimas residiam com os pais,
sendo que a esmagadora maioria vivia em núcleos familiares de «casal com filhos»
(54,9%); cerca de 1 em cada 5 vítimas vivia num contexto institucional e 7,8% em
arranjos monoparentais.
(…)
« A maior percentagem de crianças foi abusada entre os 10 e os 14 anos de idade,
sendo a média de 11,2 anos. Há diferenças entre raparigas e rapazes: 11,7 anos vs. 10,5
anos »
(…)
« Quanto aos locais mais comuns de abuso, destacam-se por ordem decrescente: seminários (23% dos casos), igreja sem outra especificação (18,8%), confessionário (14,3%), casa paroquial (12,9%) e escola religiosa (6,9%). Ao longo das décadas existe um declínio dos seminários enquanto local preferencial; surgem picos de casos em locais
externos à igreja, como nos agrupamentos de escuteiros, entre os anos de 1991 e 2010 »
(…)
« No perfil da pessoa abusadora, existem destaques: em 96,9% dos testemunhos é
do género masculino, em 77% dos testemunhos é referida com o estatuto de «Padre» e
em 46,7% das situações aquela já era anteriormente conhecida da vítima »